terça-feira, 19 de maio de 2015

AFINAL, TERÁ BENTO XVI MAIS DE 700 ANOS? Duas histórias paralelas


Se a História se faz de encontros e desencontros, não podia deixar passar este dia 19 de Maio sem colocar num mesmo trono ou num mesmo altar duas figuras tão pares e gémeas nos papéis que desempenharam e, paradoxalmente, tão  desalinhadas e ímpares no tecido normal das instituições, mui particularmente da instituição a que presidiram. Separa-os a “módica” distância de 721 anos. Ambos alcançaram a suprema tiara papal e ambos beberam do mesmo cálice da mais vil traição, quedando-se, frágeis e destruídos, às mãos dos seus mais próximos “cortesãos”.
Esta é apenas mais uma página, tirada à moda antiga, a papel químico, dos arquivos secretos do Vaticano. Em dois breves parágrafos:
1.     Pedro Celestino era um beneditino monge rural, sumido numa caverna do Monte Morone. O trono papal estava vago. Em dois anos de conclave, com apenas 12 cardeais eleitores, não houve acordo na votação. Motivo: as tremendas e ambiciosas lutas entre as duas linhagens rivais da nobreza italiana --- os Orsini e os Colonna --- cujos familiares cardeais cobiçavam a cadeira de Pedro. Até que venceu o mais forte, Carlos I de Anjou, rei de Nápoles. Foram buscar à montanha o velho frade, de 84 anos de idade, o qual, visivelmente contrafeito, foi obrigado a ocupar o trono pontifício, sob o nome de Celestino V, em julho de 1294.  Entretanto, o astuto cardeal Benedicto Caetani, promotor da causa, mas subversivamente candidato ao lugar, organizou tal cerco persecutório ao velhote  que este, impotente e sem vocação para o cargo, decidiu fugir de novo para a antiga caverna de onde viera. Benedicto Caetani, porém,  e o seu bando político-cardinalício, temendo que o fossem buscar de novo, encarcerou-o, enquanto montava o maquiavélico plano de assassiná-lo. Cinco meses durou o  pontificado de Celestino V, entre  julho e dezembro do mesmo ano.  Oito dias depois, subia ao trono papal o mesmo mafioso cardeal Caetano, com o nome de Bonifácio VIII.
2.     Em 2005, é eleito em Roma, Bento XVI, um exemplar da intelectualidade quase monástica, mas frágil e sem intuição pragmática para o cargo Os seus mais próximos, os cardeais, serventuários da banca, da corrupção e da degenerescência moral, ao ver-se acossados pela vigilância  pontifícia, moveram-lhe ciladas e angústias tais que o homem, já com 86 anos, desistiu, desertou, vítima dos “lobos do Vaticano”.
Não são necessárias mais testemunhas. O enigma está decifrado: Bento XVI tem mais de 700 anos. Tem tantos séculos quantos o velho monge beneditino, mais tarde canonizado Pedro Celestino, cujo dia a Igreja Católica hoje lhe dedica. Ambos foram traídos pela corte que os rodeava. Podem colocar-se, lado a lado, no mesmo trono ou no mesmo altar.
Tem sido este, tracejado de cíclicas excepções , o enrolado sudário vermelho de uma hierarquia usurpadora do nome do  Nazareno. Não concebo como se sentem em paz consigo próprios, os generais da cúria, os embaixadores papais, os brasonados eclesiásticos, de feminis e douradas gargantilhas ao peito,  revestidos da púrpura do avarento do Evangelho, indiferente às chagas do pobre Lázaro, e de sobrepeliz rendilhada por costureiros da mais fina “lingerie” mundana. Tão fina quanto ridícula e contraproducente!
Um grito final: Não deixemos que prendam jamais nas teias da máfia romana o Grande Libertador, Francisco Papa, apostólico “varredor” das lixeiras em que trazem triturados os crentes que aspiram à Luz!

19.Maio.2015

Martins Júnior

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