segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O PARTO DE DEZ GEMEOS: Uma interpretação alegorica da campanha eleitoral tal qual aconteceu


Ciclicamente e mais uma vez, a Mátria parturiente deu à luz um príncipe, o quinto do novo casamento de 1974. Príncipe, enquanto principal, porque a Mãe-Mátria, sendo republicana, não põe cá fora um produto monárquico.
         Desta vez, foram dez gémeos que mais de quatro milhões  ajudaram à gestação, sendo que só um viu a luz de Belém. Os outros nove ficaram no rol dos nascituros perpétuos. E porque foram tantos os progenitores, seria esclarecedor analisar a ecografia de cada um dos gémeos no próprio seio materno.
         Permitam-me esta alegoria encadeada para melhor entender a sua génese, agregando-os em linha. Assim por ser de natureza lampa o sémen ainda prematuro tentou romper o vestíbulo da vida mas não tinha consistência que lhe valesse. Ficaram no livro dos nados-mortos: Jorge Sequeira e Cândido Ferreira.
Os gâmetas mais sensíveis aos carinhos de mulher juntaram-se em Marisa Matias e Maria de Belém, embora com preferência para a pele macia e o brilho que só a juventude transmite.
Nos genes em que o atavismo telúrico falou mais alto irmanaram Edgar Silva e Vitorino da Silva que nas suas terras de origem bateram recordes, um na Madeira, o outro em Rans.
Mais maduros não para entrar nos corsos carnavalescos (o povo gosta disso) mas para sacudir os vernizes que escondem a podridão dos foliões, DDT, donos disto tudo, a esses corajosos nascituros a Mátria-Madrasta nem lhes deu hipótese de largar o cordão umbilical. Henrique Neto, Paulo Morais, Edgar Silva morreram no parto.
Marcelo e Tino (como os estremos se tocam!) receberam os gâmetas dos que se contentam com  jaquinzinhos comidos à mão, os bróculos da feira, a pá do forno (põe a pá, tira a pá do forno da padaria, à moda de Quim Barreiros) mais um copo de vinho talhado, na Madeira foi uma poncha – e o povo comove-se, ri e chora de afecto. Ideias, nada. Os dois saíram vencedores, embora disformes um do outro na proveniência social e cultural. Claro que nado-vivo agarrou-se à alcova do papel diário e dos écrans que o profetizaram e o trouxeram nos braços. Mais ainda: pegou-se, com redobradas juras de amor, ao suposto adversário sediado em São Bento. O Papa também lhe acudiu à boca com a unção baptismal. Por onde se vê que nascer não custa. Custa é saber viver.
Herdeiro de outra árvore genealógica independente prenhe de cultura seriedade, pensamento positivo precursor  de um tempo novo, Sampaio da Novoa,  não logrou a luz do dia porque a Mátria preferiu a marmita, a pá do forno, o folclore  que anestesia e diverte.
Da leitura  global  da campanha: Ideias, planos, compromissos do futuro “príncipe” perante o país, no estatuto que lhe é conferido – zero! Por isso mais de metade dos genes da nação deu o fora e não entrou no circo da feira. Lamentavelmente, porque assim fazem gerar, com a abstenção, os produtos de consumo imediato, descartável de cinco em cinco anos.
Sendo certo que o fenómeno eleitoral, espelhando a personalidade  individual dos candidatos, não é menos certo que ele significa  o espelho do colectivo nacional. É a radiografia da Nação. Reflexão imperiosa para todo um povo, a começar pelos que se apresentam como pais e tutores, dirigentes,  partidos, associações, clubes, religiões, sindicatos, escolas, nunca esquecendo que neste tablado imenso e vário nunca acabará a dialéctica de opções, interesses e ambições, umas gémeas,  outras contraditórias.
Expressamente para as hostes partidárias de bom gosto e bom senso, ouso formular a pergunta: De quantas camisolas diversas e luvas exclusivistas precisa a mão segura para erguer e prestigiar a bandeira nacional?
No entanto, acabada a vindima e consumado o parto a história continua. Faltam cinco anos para que a Mãe-Mátria deite de novo ao mundo dos portugueses o seu filho principal que lhe traga a mais luminosa estrela de Belém e que regresse às origens aquela canção que nos pertence:
 “ O Povo é Quem mais Ordena”!


25.Jan.16
Martins Junior

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