terça-feira, 23 de janeiro de 2018

A PARTIR DE AMANHÃ, SETE MULHERES NO TOPO DO MUNDO

                                                         
São assim os grandes eventos:  espectaculares no enunciado publicitário, mas camuflados, quase sigilosos nos seus meandros, nos bastidores da cena ou nos corredores dos palácios onde se realizam. É o caso de “Davos”, que receberá amanhã a visita de mais de 3000 personalidades, as mais poderosas e influentes na área da finança e na política, sob o signo do  “Forum Económico Mundial”.  Durante três dias plenos, estarão sobre  a mesa dos debates as grandes questões que afectam a Humanidade, este ano direccionadas para a saúde, educação e ambiente. No entanto, outros dilemas, desde os conflitos de soberania até aos de ordem empresarial e comercial, desfilarão mais ou menos discretamente entre os magnatas do mundo. Por exemplo, a presença de Donald Trump, contra o qual se preparam grandes manifestações. Para nós, portugueses, paira a dúvida sobre o que se há-de passar no encontro António Costa e João Lourenço, a propósito do processo Fizz,  com as perigosas consequências que poderão advir  para o relacionamento Lisboa-Luanda.
Mas o ponto alto deste areópago mundial consiste em algo de inédito e decisivamente imponente: a magna reunião dos mais poderosos do mundo será dirigida por um colégio de sete mulheres. O jornal madrileno El País, atendendo a esta circunstância singularíssima, titula: “A Hora da Mulher no Forum de Davos”. O prestigiado septeto feminino que tem a seu cargo a organização e direcção dos trabalhos  reúne um leque auspicioso marcado pela matriz universalista, quase ecuménica, desde, entre outras,  Erna Solberg, primeira-ministra da Noruega, Chetna Sinha, presidente da Cooperativa de Crédito Mann Deshi, Índia, até Chistine Lagarde, directora do FMI e Sharan Burrow, secretária-geral da Confederação Internacional de Sindicatos.
Mas a originalidade deste directório vai mais além: num forum de tamanha grandeza (basta dizer que é o próprio Rei Felipe VI que chefia a representação espanhola e usará da palavra) são as sete mulheres que dirigem os trabalhos, em total exclusividade, isto é, sem a participação masculina. Dir-se-á que é uma prova “por excesso”, em absoluta contradição com a praxis de Davos. Mas não é. Trata-se de uma luta que vem de longe, dentro da própria organização.  Actas de encontros anteriores relatam as insistentes intervenções e atitudes  das participantes contestando a usurpação machista dos centros de decisão e direcção do acontecimento. Pelo que, a maior revelação de Davos/2018 e aquela que, eventualmente, passará desapercebida do grande público, é a afirmação da Mulher, mercê da sua porfiada luta pela igualdade de género.
Em conclusão e desabafo, permitam-me justificar a presente reflexão. É verdade que Davos não representa o melhor da Humanidade, antes significando para alguns críticos um ardiloso instrumento para altos negócios em detrimento da grande massa trabalhadora. Mas, dando o benefício da dúvida, é forçoso reconhecer a vitória do poder da Mulher na organização do mesmo. E aqui vai a nota final, essencial: não me agrada mesmo nada  nem me convence quando vejo um  homem a defender os direitos da mulher. São elas, as mulheres, que têm de conquistar o seu lugar ao sol. No campo ou na cidade, na fábrica ou em casa, na escola ou na rua. Sem medo. Sem complexos. Com a coragem daquelas mulheres que se manifestaram corajosamente no Chile, diante do Papa, contra os crimes de pedofilia perpetrados por clérigos. Ou como “As Sete Mulheres do Minho”, brilhantemente cantadas pelo ‘nosso’ Zeca Afonso.  Ou até mesmo, como estas sete mulheres que, a partir de amanhã, estarão no topo de Davos/2018.

23.Jan.18
Martins Júnior
  
              

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