domingo, 11 de fevereiro de 2018

O MAIS ESPLENDOROSO DE TODOS OS CORTEJOS


Que se encantem os mortais  ou que se danem, tanto faz, com as efémeras lantejoulas pingadas das plumas todas de todos os sambódromos,
Que se atordoem ou se estalem, tanto faz,  com as peles retesadas dos tambores em marcha universal,
E mesmo que rompam  os céus europeus ou mordam os buracos de ozono, tanto faz, os troféus do futsal, que merecem o nosso aplauso,
Prefiro ficar-me, entre absorto e visionário, ao ver o mesmo lençol materno unir dois irmãos desavindos há mais de meio século. Nada mais decisivo brilhou agora no planeta, nada mais empolgante que ver desfilar nos Jogos Olímpicos de Inverno, em PyeongChong,  as duas Coreias – a do Norte e a do Sul – sob a mesma bandeira. A grandeza do gesto cresce cada vez mais na proporção inversa dos resultados finais, sejam eles quais forem.  Porque o pódio da vitória já foi alcançado:  a convergência em pacífica ogiva de dois braços do mesmo corpo, separados até agora pelas mortíferas ogivas nucleares.
Enquanto na Europa cristã e ocidental, matriz de todas as civilizações do mundo, o desporto resvala para conflitos fratricidas, o ‘milagre’ pode acontecer nas remotas paragens asiáticas: o mesmo desporto  é  bandeira de paz entre duas, entre muitas guerras. Tão límpida como as brancas pistas de gelo foi esta alvorada em PyeongChong que até serviu para nela se revelar a mancha negra do representante de Trump.
  Acreditei no aperto de mão de Barack Obama a Raul de Castro, aquando do funeral de Mandela, no estádio de Soccer City, Joanesburgo. Como acreditei no passo mútuo em frente, o de Juan Manuel Santos  e o do comandante “Timochenko” das FARC, para a paz na Colômbia.
E agora acredito que o gelo das pistas de PyeongChang  será o início do degelo de ódios antigos – ódios gémeos – que, cedo ou tarde, tornar-se-ão  sol olímpico da Paz sobre a Terra. O que os sumptuosos salões dos Congressos Internacionais não fizeram – fá-lo-ão  as paisagens de neve das Coreias Unidas.

11.Fev.18
Martins Júnior

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