sábado, 17 de março de 2018

O PESADELO CHEGOU AO FIM! DOMINGO, 18, ÀS 9,30 h COMEMORAÇÃO FESTIVA COM FREI BENTO DOMINGUES E PADRE MÁRIO TAVARES



De 17 para 18 de Março, a noite fez-se dia. Um outro dia, diferente e lúcido, marcado pela distância que vai entre o medo e a confiança, entre a escravidão e a liberdade. Tudo porque foi o silêncio dessa noite que trouxe o clarão da alvorada, aberta e limpa, para toda uma população que, desde 27 de Fevereiro, tinha sido perseguida, manietada, proibida de entrar na sua casa comum – a igreja da Ribeira Seca. E que notícia foi essa? E a história responde: “Nessa mesma noite, de 17 para 18, pelas três da manhã, os polícias abandonaram o adro e a igreja. Foram embora definitivamente”.
Ao longo destes últimos dias, o SENSO&CONSENSO           tem rememorado alguns episódios desse escandaloso assalto ao templo em 1985 por 70 efectivos policiais, às ordens do governo e da diocese. Muito ficou por contar. Provavelmente haverá oportunidade para completar o cenário então vivido. Hoje, assinala-se a presença de amigos corajosos que, no aceso da luta,  apoiaram o Povo desta localidade. “Há sempre alguém que resiste”!
Na altura, os primeiros apoios vieram do famoso grupo musical “Os Trovante” que tinham actuado no palco da Ribeira Seca em 1982 e, por isso, conheciam bem esse Povo. Logo depois chegaram  dois outros  telegramas: um do cantautor Zeca Afonso e outro dos artistas Sérgio Godinho, Júlio Pereira e Paulo  Pulido Valente, em “apoio à luta do Povo contra as prepotências”. Em 2 de Março de 1985, “Um Grupo de Cristãos de Gaia”  escreveu ao Bispo Teodoro Faria uma carta aberta, de profundo teor eclesial, “repudiando o caso e esperando que V.Ex.Rev.ma se abra ao diálogo com o Povo do Machico e com o Pe. Martins, a quem manifestamos a nossa solidariedade”.
Mas o testemunho que mais profundamente calou nas gentes da Ribeira Seca foi uma outra carta aberta ao Bispo do Funchal, assinada pelo Padre Mário Tavares Figueira, então pároco de São Tiago, Estreito de Câmara de Lobos, à qual deu o seguinte título: “PARA ESTAR COM O BISPO É PRECISO QUE O BISPO ESTEJA COM CRISTO”. Foi um tremendo, mas positivo, sobressalto no clero e nos cristãos da Madeira. A carta, escrita “com muita mágoa e depois de muita oração e de muito reflectir”, apoia-se primeiramente nos textos bíblicos, no Concílio Vaticano II e na encíclica Pacem in terris, do Papa João XXIII. Transcrevo breves parágrafos:
… “Mas quem construiu aqueles espaços senão o Povo que reclama para si o direito de celebrar o seu amor para com Deus?...  Um bispo que se apresenta como um proprietário de uma comunidade destrói a sua figura de representante dos Apóstolos… Sou forçado a reconhecer que este proceder na Ribeira Seca foi um acto político, oportunisticamente aproveitado por V.Rev.ma e muito bem explorado pelo Partido Governante… Pareceram ladrões que se juntaram para fazer um assalto e repartir os despojos… Há dois mil anos, o Sumo Sacerdote Caifás, com o apoio do Sinédrio e para repor a Ordem, o Direito e Unidade, condenou JESUS. Mandou-O para Pilatos, o Governador da Judeia e este, com a força policial, crucificou JESUS”.
“Fala-se da não-violência, mas V.Rev.ma apresenta-se armado! Que grande contra-testemunho!... Tantos cristãos há por esse mundo, convictos da Verdade. Se eles soubessem de tanto lixo que a Igreja transporta, como ficariam escandalizados”!
 Estamos em período quaresmal, celebramos o Calvário de JESUS e sabemos que o calvário continua no meio do mundo. Neste mundo, para compreendermos o sacrifício de JESUS de Nazaré, temos como imagem a História da Ribeira Seca.
Que pelo menos, Senhor Bispo, surja o sinal da Redenção”.
Submisso, respeitador, mas muito triste,
Assina: Padre Mário Tavares Figueira
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Histórias que comovem e fazem pensar. A Ribeira Seca a todos agradece. A Frei Bento Domingues, a nossa profunda gratidão por estar connosco, amanhã, domingo, às 9,30 h na igreja renovada da Ribeira Seca.

17.Mar.18
Martins Júnior

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