quinta-feira, 19 de abril de 2018

UM PRÉMIO QUE PODE SER NOSSO!


                                                 

 “Ai de quem ousa tocar nas prateleiras do sistema! Nem mesmo para limpar-lhes o pó arquivado pelo tempo. Tem cautela. Fica quieto, porque no quieto é que está o ganho!. Os sobas do prédio matam-te se o teu espanador acordar os cadáveres que dormem nos armários”.

         São estes os anátemas e as ameaças que os regimes totalitários – e os outros travestidos de democráticos – exibem como gorilas implacáveis  diante do cidadão comum quando este obedece ao impulso interior da procura da verdade. Por mais ampla e justa que seja a constituição virtual - a escrita - de qualquer organização, ninguém duvida de como funciona a constituição real - a factual, a tangível, a quotidiana - dos vários sistemas, sejam eles financeiros, políticos, religiosos. Daí nascem os garrotes ao indivíduo e à família, as retaliações, os tarrafais de maior ou menor dimensão.
Mas “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”. Refiro-me aos mais recentes Prémios Pulitzer atribuídos aos autores que ousaram publicar recentemente dois casos de investigação pura e dura: um na revista The New Yorker e o outro nos dois importantes jornais The New York Times e Washington Post. O primeiro sobre os desmandos do assédio sexual em Hollywooud, sobretudo contra o magnata da produção cinematográfica Harvey Weinstein; o segundo contra o conluio Putim-Trump, que fraudulentamente levou Donald ao poder.
Mergulhados e asfixiados que andamos em assuntos do imediato, ainda não nos demos conta do abalo do mundo que este prémio condensa. Ele constitui um padrão de aço por sobre a arrogância esmagadora do poder financeiro e do super-poder político americano reinante. Se grande, enorme foi a coragem dos jornalistas que denunciaram a fraude, maior foi a nobre ‘ousadia’ do colégio eleitoral da Universidade Columbia, EUA, depositária dos Prémios Pulitzer,  em rubricar com a sua chancela o desassombro dos investigadores.
“Grande passo para a Humanidade” – pode aqui repetir-se a histórica aclamação – sublinhando que, na escala do verdadeiro serviço ao Homem em sociedade, este Prémio é mais decisivo do que a chegada à esfera lunar. Porque liberta a condição humana da escravatura do pensamento único, das falsas notícias, enfim, da mordaça que traz amarrados indivíduos e gerações. Doravante, quem porfia na luta consciente e coerente pela descoberta da Verdade já não tem de recorrer à clandestinidade, para fugir ao medo e à repressão. Pelo contrário, será agraciado pelo seu denodo e transparência.
Grande lição para o nosso acanhado e, tantas vezes, manietado cubículo insular. Para os jornais locais, para os media em geral, capitaneados, alguns, por autênticos gendarmes do “status quo” de onde tiram o menu diário de estupefacientes e ansiolíticos que servem à população. É visível, a olho nu, a plêiade de excelentes colunistas que abandonaram a folha à qual tinham dado muito do seu talento.

Lição também – e severo réspice – aos escribas ‘cabeças-de turco’ que irrompem desabridamente, sem fundamento nem coerência, contra tudo e contra nada, em troca dos fogos fátuos do populismo rasteiro. 

  Na antecâmara de mais uma comemoração do “25 de Aril”, os Prémios Pulitzer são as mãos belas pinhas de cravos vermelhos. Para o Mundo. Para Portugal e, por consequência, para a Madeira.

19.Abr.18

Martins Júnior          

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