terça-feira, 31 de julho de 2018

24 PADRES ASSASSINADOS “PELA” DROGA – I.


                                                      

Na conjugação dos dias, como na constelação das cores, o contraste assenta bem e ajuda à plena compreensão do todo. É na crista da onda contrastante que vou atravessar a passagem de nível entre o último ímpar de Julho e primeiro ímpar de Agosto.
Por hoje, quem quiser acompanhar-me no salto inter-mensual debruçar-se-á sobre a  multiforme paisagem estival,  em que tudo é cor, é chama e é vida. Tudo  é verde e  rubro, tudo quente e amor que até “arde sem se ver”. Todas as praias são douradas e todas as baías são azuis. O corpo queima - mas a alma, essa solta-se de rompante, voa mais alto  e nidifica lá onde a leva o sonho maior. Quando a mãe-natura não consegue dar-lhe do seio original o leite inspirador, há quem procure nas volutas inebriantes das fracções do ópio anónimo o GPS delirante de nirvanas por achar. E tudo é festa, apoteose, triunfo total.
A mesma tonalidade despregada e os mesmos acordes de arraial enchem os adros e os templos: o ze-povo pica e salta para o ar, a alma reza ajoelhada e as mesmas volutas de incenso oriental embalam os corações sensíveis, alguns talvez em místicos espasmos. A Igreja portuguesa, essa então  neste verão transcende o povo básico e veste-se de gala, põe barrete escarlate na testa e anel no dedo. E lá vai ela, airosa e  principesca, rasgando bênçãos arrancadas ao báculo de outo breve. É alegria, apoteose e festa, é o triunfo erguido aos céus.
Pronto. E aí temos a aguarela apolínea entre Julho e Agosto!
Mas falta-lhe o contraste. Está naquela notícia seca  do jornal Le Monde: “No México, 24 padres assassinados ‘pela’ droga”.
O quadro aí está pintado a duas ou quatro mãos. Entende-se o que é droga, percebe-se a paranóia ‘bacana’ dos rasgos arraialescos, vê-se a opulência das dignidades sacras e subentende-se o que significa ser assassinado. Falta saber e interpretar as comas que ornamentam a preposição e artigo ‘pela’. Mas deixemos para amanhã, que é também dia ímpar.

31-Jul.18
Martins Júnior  

         

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