domingo, 15 de julho de 2018

“OS TEMPLOS DO REI” QUE AINDA PERDURAM…


                                                       
 
Todo o dia de domingo andou comigo Amós, o pastor de gado da serra. Com ele andou também dentro de mim Amazias, o Sumo-Sacerdote que, traduzido para os tempos de hoje, designar-se-ia o bispo, o arcebispo, o cardeal. Todo o dia, vi-os a discutir no Templo de Betel:
- Sai já daqui, desaparece. Vai lá pregar para a tua terra, mas aqui não. Este santuário pertence ao rei, este é o templo oficial da religião do reino.  (Amós, 7, 12-13).
Amazias, o ministro da religião do rei, do governador, do presidente. Destes recebera dotações, títulos, igrejas, casas. Tinha, pois,  de diabolizar o pequeno profeta, pastor da montanha, tocado pelo palpite radical de falar ao povo, denunciar as injustiças do rei e a deterioração do reino. E, por isso, Amós foi escorraçado.
         Padre António Vieira foi expulso de Portugal por denunciar os abusos da coroa. Dedicou-se à libertação dos escravos índios no nordeste brasileiro. O bispo do Porto, António Ferreira Gomes foi escorraçado do seu país por defender os camponeses explorados do Minho pelo regime salazarista. A Igreja oficial do cardeal Cerejeira manteve-se cobardemente calada. No antigo regime, por força da Concordata, ninguém podia ascender ao posto de bispo sem a assinatura do governo. Assim, ainda hoje nos regimes de ditadura, como na China e  na Rússia.
         Na Madeira, o governo construiu igrejas, que portavam-se como “templos do rei”, administrados pelos secretários regionais dos assuntos religiosos, os bispos, os quais punham e depunham, às ordens do poder político. Caso insólito, o de uma pequena parcela rural, Ribeira Seca,  ocupada pelas forças do regime regional que, em 1985, pretendia tomar conta da igreja local. Não conseguiu, porque aquele não era “templo do rei” – era e é do Povo.
         Amazias, Sumo Sacerdote do templo de Betel e seus descendentes  existem a granel por esse mundo fora. Aqui, também. Mas, na mesma medida, pululam os pastores de gado, os Amós,  nimbados pela inspiração inabalável de libertar o Povo. E esses vencerão. Porque diz Paulo: Posso estar em cadeias, mas a Verdade é que não pode ficar encadeada.
         Por isso, junto hoje a minha voz à de todos aqueles que sabem quanto custou a liberdade.

         15.Jul.18
         Martins Júnior
          


Sem comentários:

Enviar um comentário