terça-feira, 17 de julho de 2018

PRESENÇA DE CARACAS EM TERRAS DE MACHICO


                                                         

Homenagem, homenagem – é a designação genérica que se dá a estas manifestações. Mas o que se passou no Piquinho, em Machico, foi muito mais do que homenagem. Foi uma verdadeira agapé, na sua etimologia original: uma ceia em família em redor da mesma mesa, a mesa da saudade. O Padre Alexandre Mendonça reencontrou-se na Madeira e em Machico com os seus paroquianos emigrados em Caracas. Com efeito, o templo de São José, no Piquinho (onde radica em linha colateral o seu parentesco) encheu-se de amigos luso-venezuelanos, aqueles mesmos com quem conviveu ou ainda convive em terras de Simão Bolívar. Sintomática e eloquente a coincidência do grupo coral repercutindo as canções entoadas na igreja de Nossa Senhora de Fátima e do Coromoto, em Caracas.
Achei dever meu, por imperativo de gratidão, associar-me, anónimo entre a multidão, a esse preito de justiça para com o Padre Alexandre. Agradeci-lhe todas as provas de gentileza e apreço que me dedicou, aquando da minha visita aos emigrados na Venezuela, fornecendo-me preciosas informações, carro e motorista e, ainda, a hipótese de visitar o “seu” Barrio de São Bernardino.
Desde então, passei a admirar a acção pedagógica do dedicado capelão das comunidades aí residentes, tanto os autóctones como os portugueses, a preocupação com as obras sociais, de que se destaca o ancianato nas instalações do templo. No Padre Alexandre falava mais alto a acção do que a pregação. Acudia-me sempre à memória o velho aforismo oriental que diz assim: “Mais importante que amaldiçoar as trevas é acender uma candeia no meio da escuridão”. Neste âmbito, sempre lhe admirei a forma  como se referia  à sua segunda pátria-mãe, a Venezuela, mesmo em épocas controversas, justamente a transição entre os regimes de Rafael Caldeira e a eleição de Hugo Chaves. Olhava os destinos do ‘seu’ país com esperança e optimismo. E, apesar das mesmas nuvens negras que cobrem actualmente aquele país, não se esbateu de vez um lampejo de melhores dias.
Em nota de roda-pé, surpreenderam-me alguns imprevistos da cerimónia, entre os quais ver o presidente do GR subir os degraus do altar, dirigir-se ao ambão da liturgia didáctica e aí usar da palavra diante de toda a assembleia cristã. Confesso que só uma vez presenciei tal cena na inauguração de uma igreja na Madeira, na década de 90 do século passado.
O mesmo pendor de aproveitamento político reflectiram-no as reportagens da imprensa regional, em que 90% dos textos transcrevem o discurso político, ficando na penumbra dos bastidores a mensagem sentida do Padre Alexandre, um testemunho de humanismo e espiritualidade, magnificamente expresso no simbolismo da estola que trazia aos ombros. Mais especioso, para não dizer mórbido, foi aquele mísero apetite de encontrar quezílias e arrufos nas cadeiras vazias entre ‘personalidades’ presentes. Não são apenas os jornalistas que temos, são os jornais que a ilha fabrica…
Grande, impoluto e limpo de ideais – assim ficará sempre o Padre Alexandre Mendonça, tal como ontem no 30º aniversário da sua Ordenação Sacerdotal. GRACIAS!

17.Jul.18
Martins Júnior

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