segunda-feira, 29 de outubro de 2018

DEUS – O MAIS ENXOVALHADO NA ELEIÇÃO BRASILEIRA


                                                         

É a marca dos grandes duelos, mais visível sobretudo no campo desportivo e na arena política: Os vencedores são freneticamente ovacionados e os vencidos sempre vilipendiados. Ainda que empacotada numa subtil embalagem de falsa diplomacia, a humilhação do derrotado não esconde o gosto sádico do ganhador.
Abstraindo-me das muitas e preocupantes questões suscitadas pelo resultado eleitoral de ontem no Brasil, lanço apenas este repto aparentemente ingénuo:  quem terá sido a entidade mais enxovalhada no discurso do vencedor?... As respostas tão extensas e diversas quantas as cabeças e os postos de observação. Hoje, cabe-me responder.
Quem teve a paciência de ouvir um robot travestido de Hitler esticado e mal esganiçado deve ter ficado enjoado de tanto ouvir do cano de um fusil de caserna a palavra mais sagrada que a um humano é permitido pronunciar: DEUS. Foi tremendo e nauseabundo presenciar ao vivo a profanação do nome de Deus no meio dos três “bês” explosivos, mutuamente repelentes: bíblia, bala, boi, os três pilares da vitória do quarto “b”: Bolsonaro.
Aliás, toda aquela encenação caipira, tresandando ao mofo de sacristia – com uma espécie de ventríloquo vomitando, de olhos pedrados, baforadas sem nexo, pedaços de ‘navalhada, o Jesus, o milagre, a salvação’ – mais parecia uma sessão de macumba espírita a céu aberto, diante de  parolos mafiosos, enfim, um caldo de ´pocilga para lavagem de cabeças ocas. ‘Deus práqui, Deus prácolá, Deus pracima, Deus prabaixo’, terminando com o paranóico refrão de “Brasil acima de todos e (aqui a garganta sobe) Deus acima de todos”. Triste espectáculo digno de uma novela do homem das cavernas. E não houve ninguém que lhe gritasse o 2º mandamento do Decálogo!
Compaginando as anteriores “promessas” de um candidato, cujo programa inclui deportação ou  cadeia, fusilamento, repressão, xenofobia, violência, outras reminiscências não me ocorreram ontem senão as dos bárbaros saqueando Roma, os Cruzados marchando sobre Jerusalém, os bispos facínoras da Inquisição que matavam em nome de Deus e, de seguida,  rezavam os ofícios em volta do inocente condenado ardendo no meio da fogueira. Os jihadistas muçulmanos não fariam outro discurso: matar em nome de Alá. O quarto “b”  reprime, explora, expulsa, prende, fusila e embrulha tudo numa embalagem com o endereço de Deus!
Para nós, portugueses, não é novo esse monumental embuste. Já tivemos um outro “b” de Santa Comba Dão, que esmagou homens, mulheres, famílias inteiras durante 48 anos com a satânica bênção de uma Igreja que se satisfazia com a farisaica trilogia: “Deus, Pátria, Família”.
 Não é esta a maior inquietação para o Brasil, para Portugal, para o Mundo. Sei que há questões mais incisivas e perturbadoras. Mas entendo  importante denunciar, lá e cá, a peçonha assassina de quem se apresenta com uma cruz ao peito e  esconde atrás o revólver fatal.
Não nos tomem por tolos. Não é culpado só o quarto “b”. Compete aos homens da verdadeira Igreja de Cristo impedir a violação do 2º mandamento: “Não invocar o Santo Nome de Deus em vão”!

29.Out.18
Martins Júnior            

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