terça-feira, 23 de outubro de 2018

QUE “NOVELAS” EXPORTARÁ O BRASIL PARA PORTUGAL?


                                                      

Corro atrás dos furacões para entender as vertigens dos humanos. Todos eles, os furacões, são viajantes. Viajantes contagiantes. Não têm morada fixa. Pelo contrário, carregam aos ombros toneladas de destruição e por onde passam deixam rasto e não se satisfazem enquanto não abalam os alicerces do mundo.
Assim também os regimes devoradores da liberdade – as ditaduras, os fascismos, venham de onde vierem. Nascido no incestuoso parto italiano, o fascismo de Mussolini depressa infiltrou-se no Portugal de Salazar, na Espanha de Franco até estrebuchar-se no nacional-socialismo (execrável ironia) da Alemanha hitleriana ou no estalinismo russo.
Como cidadão do mundo, junto-me a todos aqueles que durante esta semana têm o coração aos saltos, face ao suicídio anunciado da maior e mais poderosa comunidade da América Latina – o Brasil. Analistas, historiadores, jornalistas, comentadores, escritores, artistas de renome, todos unânimes e apavorados com a vitória do fascismo arrasador. É certo que quem lá está e vive o dia-a-dia é que pode pronunciar-se cabalmente. Entretanto, perante a narcótica, perturbadora paisagem que se depara aos eleitores brasileiros e a todos nós, observadores, suscitarei sinteticamente três  tópicos de reflexão.
Primeiro: haverá alguma distinção entre os chamados assassinos maus e os assassinos bons? Será possível colocar sequer essa hipótese?
Segundo: que critérios tem um povo que desculpa e até branqueia os roubos e os crimes dos ditadores, mas não perdoa um milímetro aos que lutaram por ele?
Terceiro: como podem os auto-simulados pregoeiros do Evangelho compaginar a mensagem salvífica de Cristo com os ódios programados, a instauração do racismo, a expulsão do imigrante, a  escravização do pobre e a humilhação da mulher?
Em resumo: repugna-me se tiver de dar razão ao piropo, tipo novela de mau gosto, que lá ouvi em 1972: “O brasileiro está feliz se tiver palhota, bananeira, cachorro e violão”…
Estou longe. Estamos longe, é certo. Mas o histórico grito do Ipiranga do “7 de Setembro” já não será de Liberdade, mas de ditadura. Quem sabe se  aqueles que, domingo próximo, votarem fascismo não serão vítimas irreversíveis do voto entregue na urna, transformando as águas do rio libertador em manchas de sangue inocente espalhado pelas becos e avenidas?! E o pior é que essas ondas de sofrimento e desespero   não ficarão pelo Brasil. Virão desaguar também à nossa costa.  Mas aí, já será tarde para mudar de caminho. Oxalá me engane. Oxalá nos enganemos todos os que  nesta semana  alongamos  os nossos  olhos para as terras da Vera-Cruz!

23.Out.18
Martins Júnior    

Sem comentários:

Enviar um comentário