sábado, 3 de novembro de 2018

OLHAR PARA CIMA…OU OLHAR PARA BAIXO?


                                                        

É recorrente, quase banal. Mas nem por isso deixa de ser um caso sério, essencial e determinativo, em todos os tempos, particularmente numa época como a nossa, em que certas movimentações auto-designadas como religiosas, espiritualistas e afins aparecem geminadas com interesses político-financeiros, a ponto de influenciarem e alterarem os destinos de um país, como aconteceu com as recentes eleições no Brasil.
         ‘Porque hoje é Sábado, amanhã Domingo’, serve o presente parágrafo para introduzir os  dois textos bíblicos da praxe litúrgica oficial, os quais definem duas concepções e duas vivências diametralmente opostas. Remeto a leitura para o Livro do Deuteronómio (6,2-6) e para o texto de Mateus (12, 28-36). Cotejando, lado a lado, os dois textos, descobre-se que no primeiro, o ideário religioso tem como horizonte único o culto da Divindade. É a visão exclusivamente vertical da religião de Moisés. No segundo, à  dimensão vertical alia-se a horizontalidade cultual. Concretizando: Na resposta à questão formulada pelo escriba (Qual é o primeiro mandamento da Lei?)  o Mestre responde que ´consiste em “Amar a Deus sobre todas as coisas”, literalmente como preceituou Moisés, mas acrescenta-lhe sem mais pontos nem parágrafos: “O segundo é idêntico ao primeiro, “Amar o próximo como a ti mesmo”. Seja qual a amplitude que se dê à expressão “amar o próximo”, o que importa é reter a sua polivalência existencial e moral. Não se é religioso só por fixar o sol da Suprema Deidade, cantando-lhe glórias e hossanas por entre névoas de incenso ou alumiá-lo num cortejo ciríaco de pavios inflamados. Para o nosso Mestre, não é aí que reside o estandarte da Religião. Pelo contrário: é quando o olhar humano se debruça sobre a terra e  os braços solidários se abrem na horizontalidade perfeita, então é que brota e cresce a flor - o arbusto, a árvore, o hasteio, a ara, o monumento vivo – da verdadeira Religião.
Foi esta a notícia – a grande ‘Boa Nova’ - que o Mestre legou à Humanidade. E por isso os sacro-velhos imperadores do Templo de Jerusalém odiaram-no tanto! Com efeito, percorrendo a didáctica do Mestre, verifica-se que durante toda a sua vida são mais expressivas e incisivas as referências ao Ser Humano do que ao culto do deus Ihaveh. “Vim para salvar o que estava perdido” . É também esta a pedagogia do actual Papa Francisco. Paradoxalmente, quem folheia ou quem ouve com atenção os livros litúrgicos topa a olho-nu que 99% das preces e rituais estão cheios de conteúdos opostos.
Longe, muito longe levar-nos-iam as torrentes inspiradoras desta viragem que o nosso Líder-Cristo doou ao mundo e pela qual entregou a própria vida!  Nem foi para instaurar no Vaticano uma segunda edição do  faustoso Templo de Salomão nem para lhe queimarem nas ‘barbas do Pai Eterno’ as vítimas da idolatria, do medo e da ignorância religiosa. Não foi para isto, não.
Felizmente, têm surgido das raízes das verdadeiras igrejas (não importa qual o credo originário) frutos promissores de mentalidades amadurecidas na visão holística da promoção humana, na solidariedade sócio-cultural, enfim, na divina horizontalidade que atravessa o grito vertical do Espírito. Porque é neste clima que viaja a Salvação do Homem Total. Por outro lado, quão penoso e detestável é ver igrejas-instituições que para parecerem grandes se acoitam ao quintal dos poderosos. A Igreja de Cristo só será grande e autêntica quando for autónoma e livre.

03.Nov.18
Martins Júnior       

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