quarta-feira, 7 de novembro de 2018

PRECISAMOS DE SER SALVOS?... MAS COM QUE TIPO DE SALVAÇÃO?...


                                                               

       Sob a envolvência jesuítica dos arcos da Reitoria, a “Imprensa Académica” da UMa cumpriu o anunciado desiderato de navegar na onda   revolta de Alcácer Quibir que esconde, até hoje e até sempre, o malogrado mito do Desejado, que virá salvar Portugal para instaurar o “Quinto Império”. E lançou o repto: No século XXI, haverá ainda espaço para entronizar a Salvação?... Precisaremos de ser salvos?
         Foi António Brehm, docente da UMa, quem deu o mote, com a descoberta da “Crónica d’El-Rey D. Sebastião”, dada à estampa pela citada “Imprensa Académica”. Num primeiro relance, a questão em epígrafe até parece desadequada e anacrónica nesta era triunfal das tecnologias de ponta. Mas o encontro de ontem desvendou o espanto. Tudo está na extensão e compreensão que se tem  do conceito de salvação. Viu-se ali, sem sombra de nevoeiro, que entre os seis intervenientes cada qual tinha a sua mundividência pessoal e, na sua esteira, de qual salvação precisamos nós.
         Partindo do étimo originário – do latim: salus, salutis, que significa salvação e, simultaneamente, saúde - chega-se a uma conclusão, onde todas as perspectivas confluem: tudo é susceptível de salvação e nada fica fora do seu alcance. Tal como a saúde que aspira a um crescimento constante, também a salvação se inscreve num processo ininterrupto, seja qual for o seu meio ecológico.
         Pela mão dos seis intervenientes, a salvação percorreu os diversos itinerários da condição humana, como condição sine qua non para a nossa própria sobrevivência. Na cultura, para que não fique esclerosada em tabus e preconceitos amorfos, deprimentes. No jornalismo, para vencer a asfixia dos impérios da desinformação e das fake news que envenenam a vida em sociedade. Da economia – sobretudo, “a economia que mata” – para tentar impugnar (quase sempre ingloriamente) o triunfo tentacular do capitalismo que tudo arrasta e esmaga à sua frente. Da literatura, da ciência, da psicologia, enfim, da própria religião. Por mais estranho que pareça, é nesta paisagem tão sagrada quanto confusa e infestante, que se impõe a necessidade de salvação. Quem salva a Religião, Quem salva a Igreja?!
         Valeu a pena fazer subir à tona das marés agitadas  da nossa vida quotidiana  este clarão iluminante para interiorizarmos o irrecusável mandato de promovermos, em cada gesto e em cada passo, a renovação, o rejuvenescimento  da história que é nossa: ao fim e ao cabo, injectarmos saúde (Salvação) nas estruturas sociais que balizam o nosso  percurso comum. Porque – e foi uma das conclusões mais incisivas deste encontro – ninguém espere pelo Desejado, seja ele rei, papa ou populista salvador. Os regimes que nasceram do seio dos messias políticos, financeiros e afins acabaram por soçobrar nos escombros das ditaduras e da auto-destruição, tal como o sebastianismo se dissipou na manhã sombria de 4 de Agosto de 1578. É a comunidade – o Povo e só ele – quem pode salvar o presente e segurar o futuro.
         Como lá chegar?... Eis o mote para um novo encontro, a pista para novas descobertas.

         07.Nov.18
         Martins Júnior           

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