domingo, 11 de novembro de 2018

SÃO MARTINHO, O MAIOR NO SÉCULO IV - “SÃO” MARTINHO, O MAIOR NO SÉCULO XX !!!


                                                      

          Desde há 1700 anos, anda ele de terra em terra e de boca em boca, montado não na sela do cavalo imaginário mas no mito e, muito mais, na superstição saloia entre lagares e pipas que levianamente atravessam fronteiras e gerações. Ele é o cidadão de nobre linhagem que depois se fez voluntário servo e monge  e, mais tarde, chamado à mitra da catedral de Tours. Expurgado o seu culto dessas abusivas colagens (como se do Baco pagão se tratasse) Martinho, o santo aberto e generoso para com os marginalizados da cidade, bem merece condigna e secular homenagem.
         Mas outros Martinhos houve, E a história registou. Um deles, herói e irmão do massacrado povo de Timor, esteve connosco. Aqui, na Madeira, Funchal. Aqui, em Machico, Ribeira Seca. De nome inteiro, Martinho da Costa Lopes, a sua história e o seu drama consubstanciam-se  no drama e na glória de Timor Lorosae. Era o tempo da anexação dessa ilha pelo governo da ditadura de Jacarta, Face às ameaças e investidas do ditador Shuarto, impôs-se sempre o administrador apostólico de Dili (bispo Martinho da Costa Lopes) defendendo e incentivando os seus conterrâneos na luta pela sua identidade patriótica, recusando-se mesmo a obedecer às directivas do episcopado indonésio, despudoradamente aliado do usurpador ditador do regime.
         Sofreu os ataques ao seu bom nome e à própria integridade física, foi preso, sempres ostracizado e considerado “persona non grata” pelo poder político anexante, cujo afã maquiavelicamente premeditado visava expulsá-lo da Sé e do território de Timor. Mas o valoroso prelado nunca se vergou nem se deixou seduzir pelas promissoras benesses dos invasores. O mais degradante e repugnante, a todos os níveis, foi o Vaticano. Em vez de tomar a defesa intransigente do seu “filho qualificado”, porque nomeado por Roma, a Igreja dirigida pelo Papa João Paulo II aliou-se ao poder político de Jacarta e tudo fez para expulsar o pastor da Igreja Timorense, recambiando-o para Lisboa, terra de exílio do velho e patriótico lutador do povo. Ali viveu, numa pobre casa, privado da família e de conforto mínimo, desprezado pelo Patriarcado.
         Foi nessa altura que a Junta de Freguesia de Machico, então presidida pelo Dr. Bernardo Martins, convidou-o a visitar a Madeira, onde foi friamente recebido pelas autoridades regionais, tanto civis como religiosas. O escândalo maior veio da Igreja Diocesana, porque mandou publicar no seu órgão oficial, o Jornal da Madeira, e em grandes parangonas esta vergonhosa  Nota Episcopal”: O BISPO DE TIMOR NÃO É BISPO”. Indigno, blasfemo!
Como a gravura em epígrafe documenta, o modesto mas heróico pastor timorense, acompanhado pelo Padre Tavares Figueira e por mim,  falou à multidão apinhada junto ao palco aberto da Ribeira Seca, deixando no coração de todos os presentes  a mais emotiva e comovente impressão, pois disse-o com a autoridade de quem viveu e sofreu a dura repressão da ditadura indonésia. Mais tarde, ouvimos dizer que o intrépido (para mim, o Santo e Mártir) bispo de Timor falecera em Lisboa, exilado e só, sem que, ao menos,  a Igreja lhe dedicasse a homenagem que merecia. Veio-me então à memória o poema de Reinaldo Ferreira; “O Herói serve-se morto”!
Machico não o esqueceu, Aquando da minha gestão à frente do município, a Assembleia Municipal, por proposta do executivo camarário, aprovou à então recém-construida estrada que liga a Ribeira Seca ao Moinho da Serra, a designação  toponímica de “RUA DOM MARTINHO DA COSTA LOPES, BISPO DE TIMOR”.  Quem o conheceu e escutou ‘ao vivo’ a sua mensagem, o palpitar do coração do povo  timorense e, com ele, dos  oprimidos  do mundo inteiro, não pode atravessar aquela rua, sem primeiro perfilar-se em sentido, e saudar aquele Martinho Maior – São Martinho do Século XX -  e dizer-lhe que ele está dentro de nós, na nossa ideia e na nossa acção.
Faz hoje precisamente 100 anos o dia do seu nascimento: 11 de Novembro de 1918. No dia do Armistício em que acaba a I Grande Guerra, aí outra guerra começava. E outro herói, pacífico guerreiro, entrava em campo para libertar o seu povo, o de Timor e o de todo o Mundo!
Salvè, São Martinho do Século XX !!!

11.Nov.18
Martins Júnior   
    


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