Que
livro nos dão a ler, aqui e agora, quem os escreve ?...
          E que Livro escreveram e nos legaram,
há mais de quatro mil anos ?...
          Por mais estranho que pareça,  as páginas envelhecidas de milénios e os factos
ocorridos nos dias de hoje revelam que o Livro é o mesmo, nos mesmos
territórios, mas com personagens diferentes. 
          Em fim-de-semana, volto à ‘minha
praia’ preferida: o LIVRO, por excelência, hoje focalizado na TORAH, matriz
constitucional do Judaísmo, titulado de Pentateuco para todos os credos cristãos.
Seu autor, o grande líder do povo hebreu, Moisés, herói da sua libertação das
garras sanguinárias do Faraó. Após a saída do Egipto, esse esmagador cativeiro
de 40 anos, vendo Moisés que o povo libertado passou-se a opressor de povos vizinhos
com quem se envolvia em repetidas incursões sangrentas,  decretou em nome de De Iahveh:
          Não prejudicarás o estrangeiro, nem
o oprimirás, porque vós próprios fostes estrangeiros na terra do Egipto. Não
maltratarás a viúva ou o órfão. Se emprestares dinheiro a um pobre do meu povo,
não o explores sobrecarregando-o com juros, como fazem os usuários. E se penhorares
a capa de um próximo por dívidas, apressa-te a restituí-la nesse mesmo dia,
antes que o sol se ponha, porque essa é a única manta que possui para passar a
noite.  (Êxodo, 22, 20-26).
          Passaram-se mais de quatro mil anos. O
mesmo povo, trucidado, queimado  por um mesmo
faraó-nazi, recupera a liberdade, ganha o galardão de Estado Independente e – oh
trágica ironia dos tempos e fatídica herança abraâmica! – persegue barbaramente
irmãos seus, mata-os ou expulsa-os da sua própria terra, da casa de seus pais e
avós. Os facínoras tribais são os do Hamas e são os de Israel, ainda que ao
abrigo do direito de legítima defesa, mas completamente deturpado, pois trata-se
do mais cínico genocídio, cujos contornos são bem conhecidos.
          Surge de imediato a voz de alguém,
ecoando vigorosamente o veredicto de Moisés por sobre os campos da morte de
inocentes. Para dissuadir os invasores de Gaza e para informar todo o mundo, o Secretário
Geral da ONU recorda que os mesmos invasores não têm o direito de continuar a
perseguição e o extermínio que vêm perpetuando há 56 anos – ou 75, se nos reportarmos
a 1948 – contra os vizinhos e parentes palestinianos.
          Levanta-se então, tonitruante, um escarcéu
da boca do representante de Israel na Magna Assembleia das Nações, espumando
furores, insultos e ameaças contra quem, com autoridade moral e política, veio
implorar aquilo que, em nome de Deus Iahveh, há milénios impunha o líder
libertador Moisés  ao povo judeu – a mesma
etnia, os mesmos descendentes de Abrão, Isaac, Jacob e  Ismael. E se lermos atentamente o texto do Êxodo,
veremos que se viesse o mesmo Moisés falar – aqui e agora, hoje  - aos invasores de Gaza, seriam bem mais duras
as sanções contra  Netanyahu e o seu desumano
exército. Ei-las:   
          Se lhes fizeres algum mal e eles
clamarem por Mim, garanto-vos que eu atenderei o seu clamor, inflamar-se-á a
minha indignação e matar-vos-ei ao fio da espada. As vossas mulheres ficarão
viúvas e órfãos os vossos filhos. (Ibidem).
          Afirmam os mestres da historiografia o
clássico axioma: a história não se repete. Mas a realidade e a sucessão dos
tempos ensinam-nos que, se não se repetem, as histórias sobrepõem-se e formam o
majestoso arco de triunfo ou o interminável muro de lamentações e tragédias. E o
somatório de todos os arcos e de todos os muros reconduz-se sempre à genesíaca
luta entre o Bem e o Mal, sejam quais forem os nomes, atributos, adjectivos ou
substantivos que lhe queiram apor.
          Aqui fica, pois, patenteada essa eterna
antítese. António Guterres, reencarnando a mensagem pacificadora de Moisés e a
estranha/inconciliável  dupla Netanyahu-Putin, mercenários de Satã e Marte,
espalhando o letal furor faraó-nazi contra inocentes. A tanto chega a cega
insensatez: Como pode Putin exigir a Israel o respeito da Palestina ao seu território
dependente, quando é ele mesmo que desrespeita e mata esse direito aos
ucranianos que querem recuperar a sua Pátria Independente?+!
          Quando
chegará a desejada síntese final ?!:::
          27-31.Ago.23
          Martins Júnior








