De
Abril e Maio só conta o que perdura além dos dias correntes. E das próprias flores,
de tão belas, só ficam as raízes depois de caídas as pétalas. Afinal, a
policromia inebriante do cortejo, que inundou hoje toda a cidade, depressa se esvai pelas brechas
da noite que se avizinha. Tal assim o cortejo da história: só é belo e
garantido aquilo que é capaz de permanecer para além da cena episódica de cada
vida, por mais fulgurante que se apresente.
Neste
domingo primeiro de Maio, a rebentar pelas costuras de tanto evento e tanta
comemoração, uma só ideia perseguiu-me todo o dia: a resposta que um escasso
punhado de pescadores analfabetos deu ao Juiz do Supremo Tribunal Judaico de
Jerusalém, uma instituição precursora da futura Santa Inquisição Romana.
Aqueles homens vinham acusados de desobediência reiterada à sentença proferida
pelo Presidente do Sinédrio: “Já vos intimámos formalmente que estais proibidos de falar nesse nome. E
vós continuais contumazes desobedecendo à lei”. A resposta – directa, incisiva,
provocatória – não se fez esperar: “Fica sabendo, tu. Juiz e Sumo-Sacerdote,
que para nós é mais importante obedecer a Deus que aos homens Fica sabendo
mais: Não nos vamos calar, pelo contrário, vamos encher as ruas e praças de Jerusalém,
denunciando que tu e a tua classe assassinaram o nosso Líder e Salvador. Nós
vimos, somos testemunhas vivas do crime. Ninguém nos há.de calar”! (Act.5, 28 sgs.)
A
atitude lapidar desse grupo de pescadores analfabetos veio subverter todos os
normativos e toda a Constituição do sacro império da Sinagoga, a oficial religião
moisaica, enfim, um crime de lesa-pátria, previsto e punível com pena capital.
Mas nem por isso eles se acobardaram. Nem o medo nem a morte lhes tolheram a voz e o passo.
É
isto que faz perdurar a memória e o projecto do seu Líder e Mestre. É com
gestos destes que Ele não morre, está sempre vivo, vigilante e interventor. O
Mestre Nazareno não veio para anestesiar as mentalidades, nem tão-pouco foi seu
propósito imobilizar as pessoas. de joelhos e mãos postas. Ele veio com um
projecto definido, claro, absolutamente necessário para mudar a face do
planeta. Para concretizar o plano, era preciso acção, dinâmica, coerência e
firmeza na sua execução. E uma das plataformas imediatas consistia em desmontar
o viscoso aparelho hierárquico do Templo de Jerusalém, esclarecendo o Povo que
a maior parte dos mandamentos e preceitos aí proclamados não provinham de Deus
ou dos Profetas, ao invés, não passavam de abusivas imposições dos mercenários
da religião em proveito próprio.
Algo
de idêntico está a passar-se nos tempos que correm. Porque a cobardia e o oportunismo
percorrem os penedos e até os seixos da política, dos mercados e mesmo da própria religião. É de bradar aos quatro ventos o
escândalo de bispos e cardeais – sucedâneos hipócritas dos juízes do Sinédrio e
da Inquisição - que têm o desplante de
censurar e “condenar” o Papa Francisco pelas atitudes corajosas que tem tomado
na luta pela Transparência e pela Verdade limpa e mobilizadora. Aliás, a
história informa-nos de tantos homens e tantas mulheres que, na esteira dos
valorosos pescadores de outrora, não temem nem tremem diante dos manipuladores
sem ética, usurpadores do Poder, civil ou religioso, que sacrilegamente querem fazer
passar por leis sagradas códigos e posturas talhadas pelos mais sofisticados e
mesquinhos interesses pessoais e classistas.
Tributo
e Glória a todos quantos assumem plenamente
o seu mandato de construtores de uma Terra Melhor, ecologicamente
saudável de corpo e espírito. “Os que sofrem por amor da Verdade e da Justiça”
e em todos dias, no anónimo cenário do seu habitat
quotidiano, transformam espinhos e adversidades em positivas oportunidades
de realização dos seus ideais.
Neste
Dia e nesta Galeria de Honra estão as Mães – as nossas e as do mundo inteiro.
Elas guardam as raízes do Dia da Mãe e da Festa da Flor. Elas também fazem
perdurar o projecto holístico salvador do Líder e Mestre de todos os tempos.
05.Mai.19
Martins Júnior
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