quarta-feira, 25 de setembro de 2019

100 ANOS DE FASCISMO NUM CEMITÉRIO QUE AINDA SOBREVIVE !


                                                               

    O fascismo faz 100 anos. Há quem o tenha enterrado definitivamente,  mas há também quem lhe acenda 100 velas e lhe cante “Parabéns”. São os extremos em presença! Mas há outros – a grande multidão – que, inconscientemente, alimenta dentro de si resquícios, sementes  inatas de um culto ao fascismo reincarnado nos tronos dos regimes políticos e nos meandros do quotidiano relacionamento dos diversos agregados sociais. Umberto Eco analisou este estranho fenómeno da condição do homem-em-sociedade, no seu livro a que deu o expressivo título “O Fascismo Eterno” (1995).
         Num tempo movediço como aquele que o mundo vive, onde as estruturas governativas e as tensões internacionais ameaçam fazer colapsar o equilíbrio sócio-político e ambiental do planeta, será útil revisitar a génese do fascismo, o seu crescimento, as metamorfoses camaleónicas com que se disfarçou e, retomando Umberto Eco, a sua revivescência até aos nossos dias, talvez até sempre. Sobretudo, para lhe descobrirmos o embuste e a peçonha que nele se escondem.
         Itália – a pontifícia e sacra Itália – foi  seu berço. Em 1919. O pai: Benito ( Bento,Bendito) Mussolini. A ‘bíblia’ programática do fascismo foi publicada nas páginas de Il Popolo d’Italia, Junho 1919. Qual a atracção fatal do fascismo? É Ian Kershaw quem nos explica, em À Beira do Abismo, que na tradução espanhola se define como Descenso a los infernos:
         “O lado emocional, romântico e idealista  do fascismo, bem como o seu activismo violento e aventureiro, exerceram uma atracção desmesurada sobre os homens jovens que tinham sido expostos aos mesmos valores nos movimentos juvenis da classe média – quando não pertenciam já às organizações da juventude esquerda ou católicas”.
         O mesmo historiador continua e traça as causas conjunturais que deram origem ao movimento:
         “A vitória do fascismo dependeu do descrédito total da autoridade do Estado, de élites políticas fracas que já não conseguiam garantir que o  sistema defendesse os seus interesses, da fragmentação da política partidária e da liberdade para a construção de um movimento que prometia uma alternativa radical”. Andrea Rizzi, colunista do El País, acrescenta “outros objectivos louváveis, como o sufrágio universal, (e a elegibilidade das mulheres), as jornadas laborais de 8 horas e o salário mínimo”.
         Porque não está no escopo destas linhas escalpelizar a anatomia do fascismo, só importa aqui e agora erguer na amplidão do planeta um grito de revolta à espera de uma resposta que nunca chega: Como foi possível que  o movimento italiano chegasse ao cúmulo da barbárie, aos paroxismos do nazismo alemão, do salazarismo português, do franquismo espanhol?... (A propósito, saudemos a decisão da Justiça madrilena em retirar do ‘Vale dos Caídos’ o corpo do generalíssimo Franco, pois o assassino não é digno de ocupar o chão sagrado onde estão as vítimas que ele mandou matar)…
          A resposta deveria sabê-la cada um de nós. “Os homens fizeram o mundo assim”! O povo assim quis! O egoísmo, o oportunismo, a inércia, os silêncios cúmplices… E em muitíssimas circunstâncias, a nossa desatenção, os panem et circenses (pão, patuscadas, jogos, arraiais) que oferecem ao povo. E enquanto o povo se diverte, os seus inimigos manipuladores preparam na noite minas e armadilhas para tramá-lo. No dia do voto!... Todos os ditadores do fascismo ganharam o pódio na urna do voto. Para, de seguida,  meterem os votantes na urna do fascismo.
         Os madeirenses, de tantas décadas passadas, já são “doutores” nesta ciência política. Apetece cantar, a plenos pulmões, a proclamação de Fernando Lopes Graça: “Homens, Acordai”!
Homens, Mulheres, Jovens de todas as idades, Acordai!
         Após, 100 anos, “o fascismo não passará”!
25.Set.19
         Martins Júnior

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