O
fascismo faz 100 anos. Há quem o tenha enterrado definitivamente, mas há também quem lhe acenda 100 velas e lhe
cante “Parabéns”. São os extremos em presença! Mas há outros – a grande multidão
– que, inconscientemente, alimenta dentro de si resquícios, sementes inatas de um culto ao fascismo reincarnado nos
tronos dos regimes políticos e nos meandros do quotidiano relacionamento dos diversos
agregados sociais. Umberto Eco analisou este estranho fenómeno da condição do
homem-em-sociedade, no seu livro a que deu o expressivo título “O Fascismo
Eterno” (1995).
Num
tempo movediço como aquele que o mundo vive, onde as estruturas governativas e
as tensões internacionais ameaçam fazer colapsar o equilíbrio sócio-político e
ambiental do planeta, será útil revisitar a génese do fascismo, o seu
crescimento, as metamorfoses camaleónicas com que se disfarçou e, retomando
Umberto Eco, a sua revivescência até aos nossos dias, talvez até sempre. Sobretudo,
para lhe descobrirmos o embuste e a peçonha que nele se escondem.
Itália – a pontifícia e sacra Itália –
foi seu berço. Em 1919. O pai: Benito ( Bento,Bendito) Mussolini. A ‘bíblia’
programática do fascismo foi publicada nas páginas de Il Popolo d’Italia, Junho 1919. Qual a atracção fatal do fascismo?
É Ian Kershaw quem nos explica, em À
Beira do Abismo, que na tradução espanhola se define como Descenso a los infernos:
“O lado emocional, romântico e
idealista do fascismo, bem como o seu
activismo violento e aventureiro, exerceram uma atracção desmesurada sobre os
homens jovens que tinham sido expostos aos mesmos valores nos movimentos
juvenis da classe média – quando não pertenciam já às organizações da juventude
esquerda ou católicas”.
O mesmo historiador continua e traça as
causas conjunturais que deram origem ao movimento:
“A vitória do fascismo dependeu do
descrédito total da autoridade do Estado, de élites políticas fracas que já não
conseguiam garantir que o sistema
defendesse os seus interesses, da fragmentação da política partidária e da
liberdade para a construção de um movimento que prometia uma alternativa
radical”. Andrea Rizzi, colunista do El
País, acrescenta “outros objectivos louváveis, como o sufrágio universal, (e
a elegibilidade das mulheres), as jornadas laborais de 8 horas e o salário
mínimo”.
Porque não está no escopo destas linhas
escalpelizar a anatomia do fascismo, só importa aqui e agora erguer na amplidão
do planeta um grito de revolta à espera de uma resposta que nunca chega: Como
foi possível que o movimento italiano
chegasse ao cúmulo da barbárie, aos paroxismos do nazismo alemão, do
salazarismo português, do franquismo espanhol?... (A propósito, saudemos a
decisão da Justiça madrilena em retirar do ‘Vale dos Caídos’ o corpo do
generalíssimo Franco, pois o assassino não é digno de ocupar o chão sagrado
onde estão as vítimas que ele mandou matar)…
A
resposta deveria sabê-la cada um de nós. “Os homens fizeram o mundo assim”! O
povo assim quis! O egoísmo, o oportunismo, a inércia, os silêncios cúmplices… E
em muitíssimas circunstâncias, a nossa desatenção, os panem et circenses (pão, patuscadas, jogos, arraiais) que oferecem
ao povo. E enquanto o povo se diverte, os seus inimigos manipuladores preparam na
noite minas e armadilhas para tramá-lo. No dia do voto!... Todos os ditadores
do fascismo ganharam o pódio na urna do voto. Para, de seguida, meterem os votantes na urna do fascismo.
Os madeirenses, de tantas décadas
passadas, já são “doutores” nesta ciência política. Apetece cantar, a plenos
pulmões, a proclamação de Fernando Lopes Graça: “Homens, Acordai”!
Homens,
Mulheres, Jovens de todas as idades, Acordai!
Após, 100 anos, “o fascismo não passará”!
25.Set.19
Martins
Júnior
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