terça-feira, 15 de outubro de 2019

CARAMBOLAS E TACADAS DA VIDA: DE ONTEM, DE HOJE, DE SEMPRE


                                                  

Que mãos estranhas se escondem  por aí fora,  nos escaninhos da mais soturna estratosfera, mãos invisíveis que jogam os fios da história e mexem os mortais como marionetes desmioladas, ao sabor de alterações sem nexo nem rumo?!... Mesmo que  Chesterton não tivesse escrito o “Desconcerto do Mundo”, estaríamos hoje em claras condições de presenciar, a olho-nu e para desgraça nossa impotentes,   este circo  de esquizofrenia colectiva, em que palhaços e monos saltam para os tronos, traidores de cara calçada ascendem a fiéis amantes da coroa e até os algozes assassinos são canonizados  na praça pública ou na ara das urnas como salvadores da pátria!
É só abrir os olhos – mesmo que seja para fechá-los depressa – e constatar o nauseabundo espectáculo que vai desde os ‘tesourinhos deprimentes’ aos monstros  (des)humanos que destroem o ambiente temporal  em que se movimenta a nossa história individual e colectiva. Em marcha acelerada (para não enjoarmos na viagem) percorro o agora, o antes e o depois. A hipocrisia de um Trump que diz combater os extremistas islâmicos do  Daesh, mas deixa-lhes caminho aberto, no norte da Síria com a retirada das tropas americanas, permitindo assim a invasão turca contra os curdos. No mesmo enclave, agiganta-se agora, como arcanjo redentor, aquela figura sinistra e pálida de  Bashar al-Assad, o mesmo que em 2011, com as forças colaboracionistas da Rússia e do Irão, esmagou brutalmente a vontade democrática do população  síria.
Sempre foi assim. Recolho aqui, por ser mais impressivo, o elogio de Eugénio Pacelli, mais tarde Papa Pio XII, aquando da proclamação de Adolf Hitler como líder supremo do  Reichstag, em 1933. Elucidativo é o livro de Henri Fabre, L’Èglise Catholique face au fascisme et au nazisme” Já antes, Pio XI alcandorava encomiasticamente o fundador do fascismo italiano, cognominando-o de “O Incomparável Benito Mussolini”.
As voltas que o mundo dá! Mais desconcertantes e vertiginosas que as rotações do planeta! Desentranho-o. o planeta, e aos meus olhos desenha-se, não um círculo achatado, mas um extenso rectângulo,  esverdeado e todo chato, de uma planura virgem, onde os humanos são bolas roliças, multicolores, que se cruzam e entrecruzam, de modo tão tresloucado que  até nos interrogamos: “Que mãos estranhas estão a mexer neste jogo?”.
E não é preciso ir muito longe para ‘apreciar’ estas tacadas, carambolas, truques e trapaças, nas mãos de feirantes de circo que da lama fazem ouro e vendem chita por seda. Às vezes é o tempo, outras vezes a maré e quase sempre é o “olho no burro”  (leia-se, do oportunismo insaciável) que lhes faz cair nas mãos o bolo fácil do sucesso.
Também não será precisaremos rapar as escamas da vista para assistirmos a esta degradante tômbola da vida pública e publicada, em que o “Zé pelintra”, com apenas três moedas que pôs na máquina,  vê cair-lhe nas mãos uma estrondosa chuva metálica. E o nosso “Zé” atrevido, se a tômbola não der, ele não hesita nem teme: estica a voz grossa de tabaco velho e exige, ameaça… depois, no galho verde,  canta como um herói! Noutros casos, mas por veredas idênticas, é a mediocridade que campeia, trepa em passo de lagarto e “la politique du chat”  (a astúcia de gato) e assenta a calosa cauda na cátedra dos sábios e competentes. Mas nisto, se é grande a vantagem do “feirante”, maior, muito maior é o prejuízo para a sociedade.
Por aqui se vai à degradação e ao entulho, onde os sapos se vestem de reis.  Por aqui,  se desmotivam e se auto-excluem os autênticos valores da grei. Por aqui, depressam os populistas, os ditadores. E em vez de um povo sábio, temos um povo miúdo, uma geração de medíocres.

15.Out.19
Martins Júnior

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