Que
mãos estranhas se escondem por aí fora, nos escaninhos da mais soturna estratosfera,
mãos invisíveis que jogam os fios da história e mexem os mortais como
marionetes desmioladas, ao sabor de alterações sem nexo nem rumo?!... Mesmo que
Chesterton não tivesse escrito o “Desconcerto
do Mundo”, estaríamos hoje em claras condições de presenciar, a olho-nu e para
desgraça nossa impotentes, este circo de esquizofrenia colectiva, em que palhaços e
monos saltam para os tronos, traidores de cara calçada ascendem a fiéis amantes
da coroa e até os algozes assassinos são canonizados na praça pública ou na ara das urnas como salvadores
da pátria!
É
só abrir os olhos – mesmo que seja para fechá-los depressa – e constatar o
nauseabundo espectáculo que vai desde os ‘tesourinhos deprimentes’ aos monstros
(des)humanos que destroem o ambiente
temporal em que se movimenta a nossa história
individual e colectiva. Em marcha acelerada (para não enjoarmos na viagem)
percorro o agora, o antes e o depois. A hipocrisia de um Trump que diz combater
os extremistas islâmicos do Daesh, mas
deixa-lhes caminho aberto, no norte da Síria com a retirada das tropas
americanas, permitindo assim a invasão turca contra os curdos. No mesmo
enclave, agiganta-se agora, como arcanjo redentor, aquela figura sinistra e
pálida de Bashar al-Assad, o mesmo que
em 2011, com as forças colaboracionistas da Rússia e do Irão, esmagou brutalmente
a vontade democrática do população
síria.
Sempre
foi assim. Recolho aqui, por ser mais impressivo, o elogio de Eugénio Pacelli,
mais tarde Papa Pio XII, aquando da proclamação de Adolf Hitler como líder
supremo do Reichstag, em 1933.
Elucidativo é o livro de Henri Fabre, L’Èglise
Catholique face au fascisme et au nazisme” Já antes, Pio XI alcandorava encomiasticamente
o fundador do fascismo italiano, cognominando-o de “O Incomparável Benito Mussolini”.
As
voltas que o mundo dá! Mais desconcertantes e vertiginosas que as rotações do
planeta! Desentranho-o. o planeta, e aos meus olhos desenha-se, não um círculo
achatado, mas um extenso rectângulo, esverdeado e todo chato, de uma planura
virgem, onde os humanos são bolas roliças, multicolores, que se cruzam e
entrecruzam, de modo tão tresloucado que até nos interrogamos: “Que mãos estranhas
estão a mexer neste jogo?”.
E
não é preciso ir muito longe para ‘apreciar’ estas tacadas, carambolas, truques
e trapaças, nas mãos de feirantes de circo que da lama fazem ouro e vendem chita
por seda. Às vezes é o tempo, outras vezes a maré e quase sempre é o “olho no
burro” (leia-se, do oportunismo insaciável)
que lhes faz cair nas mãos o bolo fácil do sucesso.
Também
não será precisaremos rapar as escamas da vista para assistirmos a esta
degradante tômbola da vida pública e publicada, em que o “Zé pelintra”, com
apenas três moedas que pôs na máquina, vê
cair-lhe nas mãos uma estrondosa chuva metálica. E o nosso “Zé” atrevido, se a
tômbola não der, ele não hesita nem teme: estica a voz grossa de tabaco velho e
exige, ameaça… depois, no galho verde, canta como um herói! Noutros casos, mas por
veredas idênticas, é a mediocridade que campeia, trepa em passo de lagarto e “la
politique du chat” (a astúcia de gato) e
assenta a calosa cauda na cátedra dos sábios e competentes. Mas nisto, se é
grande a vantagem do “feirante”, maior, muito maior é o prejuízo para a sociedade.
Por
aqui se vai à degradação e ao entulho, onde os sapos se vestem de reis. Por aqui, se desmotivam e se auto-excluem os autênticos
valores da grei. Por aqui, depressam os populistas, os ditadores. E em vez de
um povo sábio, temos um povo miúdo, uma geração de medíocres.
15.Out.19
Martins Júnior
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