sexta-feira, 29 de novembro de 2019

SEMPRE ENTRE NÓS DESDE 1773!


                                                         

Hoje, a minha noite é toda uma vigília. Não de velório sobre a laje fria de quem se finou, mas de sentinela atenta, vigilante de um castelo onde nascem e crescem exércitos construtores de novos mundos e novas gerações.
É porque – já passaram 246 anos – uma jovem mãe passava as dores do parto para ‘deitar ao mundo’ uma das maiores almas nascidas em terro insular. Era Francisco Álvares de Nóbrega, o infante ilhéu, que aguardava a luz da madrugada de 30 de Novembro para assentar arraiais não só  na história  das terras de Tristão Vaz Teixeira mas nos anais de “todo o homem que vem a este mundo”.
É facto repetido que todos os anos Machico ressuscita das cinzas o seu patrono maior. Mas o que não é sobejo – nem nunca o será – é o nosso olhar desperto e o nosso espírito vidente diante daquele que antecipou uma era nova para os futuros inquilinos deste planeta que hoje é nosso.
Sei que o povo de Machico, através da sua Junta, tornará viva a memória de Francisco Álvares de Nóbrega em sessão comemorativa, na sua sede, pelas 19 horas. Mas, pela minha parte, volto o rosto para o sol nascente de amanhã e deixo-me ficar absorto mas dinâmico na contemplação de alguém que percorreu estes caminhos, sentiu as mesmas pulsões e atirou pata a chama do Futuro as achas-ideias que ciclicamente renovam a humanidade. Vejo-o na galeria dos Libertadores, lado a lado entre os heróis que deram tudo, a própria vida, para que os vindouros  alcançassem os vastos horizontes a que têm direito. Comparo-o, na mesma linha de rumo, ao altíssimo músico e co-autor do “Canto Solidário”, José Mário Branco – ambos tocados pela mais arraigada e dolorosa “Inquietação”, face a um mundo longe dos seus sonhos.
E enquanto a noite desliza no vale, vou trauteando como uma prece e um anseio longínquo excertos da canção que lhe compus em 2014:


“Irmão de Bocage e de Camões
Quebraste os grilhões
Onde outros algemam a Verdade

Longe da terra e dos teus que já não tinhas
Deixaste sereno a vida ingrata
E sepultaste  o monstro antigo
De vis garras mesquinhas

Hoje voltas de novo
Belo firme vertical
Alçando ao mar e à terra
Deste teu berço
Canto Imortal”

29.Nov.19
         Martins Júnior

Sem comentários:

Enviar um comentário