O
Natal virou folhetim. Novela e folclore. Já ninguém passa sem ele. Até mesmo
aqueles cujo credo passeia-se por outros valores – budistas, maometanos,
agnósticos – até esses engrossam a manada festivaleira do folclore, dito
natalício, embalados e anestesiados que vão na embriaguez multicolor do
lampadário que toma conta das praças e rotundas. das avenidas e dos becos, onde
sempre se aninha um simulacro de presépio para ilusão e surpresa do incauto transeunte,
Por esta entrada, logo se adivinha que
não é de novela nem de queima-foguetes a minha reflexão de hoje, inspirada nos
textos do II Domingo preparatório do Natal. Muito ao contrário, é de
inquietação e, mais que inquietação, é de frontal repúdio de todo o ‘feérico’
mural com que se pinta o Natal. É a abissal diferença que existe entre o sonho
e a realidade.
Vamos ao sonho. Houve, entre outros, um
visionário de olhar penetrante, apanágio do espírito profético, que “viu” assim
(e tornou público) o perfil do Líder criador do Natal futuro:
“Alguém,
nascido da geração de Jessé, dotado de sabedoria e conhecimento, de conselho
e fortaleza, de ciência e justiça. Será Juiz seguro, que não julgará pela aparência
mas pela verdade de factos e pessoas. Afrontará e ferirá os tiranos e
orgulhosos da terra, até implantar o reino da Justiça e do Direito”.
Mas “viu” mais o Visionário Profeta e não teve dúvidas ao anunciar que o Líder instauraria
a apoteose inimaginável de uma “Nova Ordem” mundial, não só entre os homens,
mas também no reino animal. Oiçamos:
“O
lobo habitará pacificamente com o cordeiro, o leopardo dormirá ao lado do
cabrito, o leão e o vitelo comerão juntos, sem se agredirem. As próprias
serpentes serão tão mansas que até uma criança desmamada poderá entrar nas suas
cavernas, brincar com elas sem perigo de ser mordida”
Como
analista da sociedade e conhecedor da dialéctica das relações humanas, o Vidente
passa da linguagem metafórica ou da antevisão virtual para a realidade factual :
“Os habitantes do
planeta não mais farão dano nem destruição entre si, nenhuma nação organizará
treinos ou paradas de guerra, porque a Terra inteira ficará cheia da verdadeira
ciência. Sob o estandarte do Líder (Ele será a bandeira dos povos) voltarão os
exilados em paz às suas pátrias, todos os povos serão resgatados
e acabar-se-ão todos os rancores e toda a
inveja que destrói as nações”.
Eis
o Natal – sonhado, inventado, programado por Isaías, 240 anos antes de chegar à
Palestina o Desejado, o tal Líder anunciado! Chegados que estamos ao Terceiro Milénio, alguém
viu sombra desse sonho sobre este planeta que habitamos e conduzimos?...
O
vaticínio de Isaías contava com o Deus Iahveh e o seu Messias para materializar
a visão idílica do Profeta. Debalde. Impotentes, direi, alheios à arena dos
mortais, eles não fizeram nada por isso. Nem farão. Os projectos humanos só
braços humanos poderão realizá-los. A história o demonstra. Se o Mundo deu um
passo em frentes fê-lo sob os pés calejados de homens e mulheres que nele se
empenharam. E sofreram. Aí está o Nazareno, na sua vida existencial, concreta,
a definir as linhas programáticas de acção. Ele cumpriu. E, para isso, pagou
com a própria vida.
Hoje,
aqui e agora, estão tantos braços erguidos, no trabalho, na ciência, na arte,
nas praças públicas, lutando para que surja o Natal suspirado há milénios,
desde que os humanos povoam a terra. Aí está Greta Thunberg e todos aqueles que
em Madrid têm protestado, nestes dias, contra os ‘gigantes-monstros’ que matam
o verdadeiro Natal dos povos. Aqui e agora, estamos nós, tentando tornar o sonho
em realidade, ainda que saibamos que o Mundo continuará sempre em 24 de
Dezembro…até ao fim dos tempos!
Apressemos
o advento do Único, Autêntico 25 de Dezembro
07.Dez.19
Martins Júnior
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