Ei-la que vem sobre “as
salsas águas”, formosa e segura, ardente mas serena, qual ninfa de um Tejo novo
acenando às novas gerações. Argonauta-Mulher, Senhora e Mendiga da terra, do
mar e do ar, ela não vem só. Com apenas 16 dos verdes anos, não conseguiu
acumular força e poder, capazes de mover o planeta. O poder que ela detém não é
dela, mas de quem lho deu. E quem lho deu foi a consciência universal imanente
em cada inquilino desta “Casa Comum”. Foi a ciência, mãe e pedagoga do
crescimento humano. Enfim, foi a voz da Terra, esse Império dos Três Reinos, que
nos foi dado de empréstimo e do qual tantas vezes nos jogamos fora.
Digam
o que queiram os detractores a soldo do negacionismo profissional, essa menina
irrompeu, qual Joana d’Arc dos tempos hodiernos, por entre o tropel dos invasores do planeta e veio desbravando espessos
negrumes, tenebrosos mares de opulentos adamastores, eles mesmos estranguladores
da vida que a todos pertence. Merece, pois, esta Senhora Peregrina todo o
apreço e, mais que o apreço dela, merece que lhe oiçamos o apelo lancinante em
defesa do Futuro. De passagem, hoje, por Lisboa, deu a Portugal aquele “clic”
que nos enobrece, sim, mas sobretudo nos alerta e põe em marcha.
Promissora
geração esta que lidera o Dia Novo!
No
entanto, se algum espinho se aninha, remordendo, lá no fundo de mim mesmo, é aquele que Jean Jacques Rousseau já expressara,
com fatal determinismo: “O homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe”. Digamos que
Greta Thunberg é uma criança e são crianças as multidões que militantemente a
acompanham. Crescerão, serão jovens, adultos. O chamado “mundo do trabalho” será
o seu trunfo e o seu troféu, será ainda o seu pão e o seu abrigo. Os Donos do
Trabalho, os benfazejos “dadores de trabalho” far-lhes-ão negaças e benesses: “Vens
para a administração da minha empresa, da minha siderurgia, dar-te-ei garantias
seguras nas minhas oficinas de armamento, abrirás a bom preço sucursais das
minhas petrolíferas, ganharás o suficiente para não te preocupares com esses efeitos de estufa. Tens o futuro nas
mãos, o futuro, o capital, enfim, tens tudo a ganhar”, etc., etc..
E
temo que este cantar das sereias do harém dos adamastores sem escrúpulos,
destruidores da vida, alicie os jovens que hoje juram corpo e alma pelo
ambiente, contra as alterações climáticas… e se pervertam em anestesiados e,
depois, entusiásticos aliados dos estranguladores do planeta. O capital, o
poder, a ganância dos “Donos Disto Tudo” não têm limites. E a ‘necessidade
obriga’…
Tenho
conhecido – e o público também – casos flagrantes de “estadistas”, inicialmente incondicionais militantes das
extremas-esquerdas, revolucionários incorrigíveis, que mais tarde acabaram nos engordorados braços
das direitas e garimparam até ao éden dos “GoldmenSachs”… Enfim, o anátema
latino : “Corrutio optimi, pessimi”.
Faço
meu o apelo de Greta Thunberg e acrescento-lhe um voto: Que dos jovens que a
seguram nenhum deles confirme o axioma de Rousseau. Para ela, a autêntica Senhora
Peregrina dos tempos novos, canto-lhe o fado da paixão e da coragem, bem português: “Que nunca a voz
lhe doa”!
03.Dez.19
Martins Júnior
Fantástico !
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