terça-feira, 3 de março de 2020

OUTRO CORONA-VÍRUS, MORTALHA NACIONAL, “DESDE O MINHO ATÉ TIMOR”

                                                           


         No pandemónio obsessivo em que se está tornando a epidemia, quase pandemia, do “corona-vírus”, o que mais impressiona é a psicose do medo – medo global, visceral, que  infecta toda a gente e que nos faz duvidar de tudo e de todos: da própria família, dos amigos, dos locais de trabalho e até dos lugares e estilos de culto. O clima de desconfiança e de tensão social e ambiental que tomou conta dos portugueses, e não só, transportou-me para um outro tipo de virose, a virose política do terror, durante os 48 anos de ditadura, em que o “avejão” perseguidor com rosto de “Pide” causou traumas insuportáveis que terminaram nos “hospitais” das prisões nacionais. Tudo ficou extinto com o 25 de Abril de 1974.



Nunca o viu alguém
Nem lhe tocou o ombro
Por não vê-lo nem tocá-lo
Cresceu-lhe o unicónio do assombro
E por ser informe ficou disforme
O avejão lunar
Metade monstro metade oculto avatar

Não tem olhos nem boca
E as asas dorsais
De breu
Sufocam sem som quanto se move abaixo do céu

Ninguém o vê
Só tem ouvidos não tem orelhas
Omnipresente
Ubíquo ausente
Todos o temem nos becos sem telhas
No vão das escadas vigilantes
Foragidas clandestinas
Como nas cátedras gigantes
E nas magras oficinas

Ninguém sabe quem é quem
O filho não conhece pai
A filha não conhece mãe
Ninguém sabe quem o trai

Porque o avejão disforme
Nunca se cansa nem dorme
E os ouvidos sem orelhas
São invisíveis centelhas
Nas fogueiras da prisão

Coroado
O avejão soturno sem lei
Tem o mandato do rei
Entra no templo
Veste mitra e solidéu
 Infecta o confessionário
E do inocente faz réu

Assim Portugal
Epicentro viral
Das negras epidemias
Do medo - mortalha nacional

Hospital?
Só o forte de Caxias
E o sal do Tarrafal
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Mas naquela noite
O avejão do terror
“Desde o Minho até Timor”
Tombou

E o vírus-coroado
Da mortalha nacional
Foi Saúde e Liberdade
Bandeira de Portugal!


03.Mar.20
Martins Júnior

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