sábado, 7 de março de 2020

SOBRE O SISMO… EU CISMO E SOBRECISMO


                                                      

Enquanto pelas arcadas do templo reboavam os sumptuosos acordes da idade barroca…
Enquanto nos palcos esvoaçava a arte de Sófocles e se estendia suave  o manto das canções românticas…
Enquanto, ao abrir da noite, ensaiavam-se os primeiros sonhos de amor entre lençóis de linho…
Eis que o Planeta-Adamastor acorda e grita: “Estou Aqui!”.
E todo o mundo se alvoroçou e os homens espavoridos fugiam do chão que se lhes escapava debaixo dos pés!
Sereno, mas não impávido, eu cismo com outros sismos de magnitude maior, embora de aparência menor: as magmas dilacerantes  dos invisíveis epicentros familiares… as depressões sem fundo dos oceanos que trazemos no peito… os corona-vírus  que, de longínquas paragens, hospedamos dentro de nós e que teimam em derrocar tudo à nossa volta!
E, por fim, sobrecismo na brisa suculenta que, desde 1895,  me trouxe Rudyard Kipling, no seu famoso “If” (Se):
…………
Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores...
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores...

Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste...

Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio a construir de novo...

Se puderes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar avante...
Então
Alegra-te, meu filho,
Então
Serás um Homem!"
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07.Mar.20
Martins Júnior





1 comentário:

  1. Ah! Soubesse eu, assim, saborear a vida nos seus acontecimentos, tirando deles o deleite da esperança! É, na verdade, tudo para cismar. Um abraço, P. Martins.

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