Cá
fora, as trombetas de Sião levantam ao Olimpo Sideral o ‘corpo santo’ do
Salvador da Pátria, subindo entre volutas de incenso saído dos turíbulos cardinalícios
que as mãos frementes dos príncipes da Igreja bamboleiam como bolas de cristal,
enquanto os coros dos anjos e arcanjos abrem alas para deixar passar o ‘Eleito
de Deus’…
Lá
dentro, “pó caído”, há um corpo inquieto, mordido e sacudido por um outro
cortejo que lhe faz escolta invisível, mas inexorável, tétrica. Crianças
enfezadas, de pés retalhados pela fome e pelo abandono; mães e avós de face
esquálida pela tísica e pelo peso dos dias sem manhã; esqueletos de milhares jovens,
uns amortalhados, outros mutilados em guerras coloniais; corpos apodrecidos nas
masmorras de Caxias e Peniche ou mumificados em cadáveres ambulantes desde os
ilhéus do Tarrafal; famílias reduzidas à miséria e à míngua de pão, iguais à de Aristides Sousa Mendes; e
ministros do culto, cristos do povo e até bispos de evangelho, como o de
Nampula e do Porto, expulsos do seu próprio país, porque se recusaram
ajoelhar-se diante do ditador. “Diante dos homens, sempre de pé”!… Em defesa do
Direito, da Justiça, da Liberdade!
E
mesmo que a justiça dos homens o tenham posto num sumptuoso mausoléu, o código da
inflexível Natura mandou entrar no Panteão o cortejo famélico, interminável,
das vítimas inocentes, barbaramente afogadas pelas mãos silenciosas do ditador.
Cinquenta anos volvidos, elas rondam, dia e noite, o fatídico mausoléu onde não
dorme nem descansa o cínico canonizado e aspergido pela flor de Cerejeira…
E cinquenta anos volvidos, é preciso
trazê-lo à ribalta do Grande Teatro do Mundo, PARA QUE OS HOMENS NÃO
ESQUEÇAM!!!
E para que não deixem proliferar a herança
maquiavélica que teima em sair da cova e
ainda pulula nos dias que passam. Talvez, bem perto de nós, no nosso próprio
terreiro ilhéu!
“FELIZMENTE HÁ LUAR” no Forte de São Julião
da Barra. Neste mesmo dia, 27 de Julho
de 1993, falecia o dramaturgo Luis de Sttau Monteiro, autor do texto que não
deixou cair no esquecimento a tragédia do líder da Revolução de 1820, o general
Gomes Freire, atirado à fogueira em São Julião da Barra, Lisboa.
A raça dos ditadores nunca mais acaba.
É preciso opor-se-lhe arreigadamente a ínclita geração dos arautos combatentes
pelo Direito, pela Justiça, pela Liberdade!
Felizmente, connosco, haverá sempre Luar.
27.Jul.20
Martins
Júnior
Autêntico hino à liberdade que o atrasado mental do Salazar tanto trabalho teve para roubar aos Portugueses. Que o inferno seja leve para tanto ódio que o maldito espalhou.
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