Domingo
foi o Dia do Espírito para a numerosa multidão dos crentes. É uma das festas
mais ancestrais no panorama religioso dos portugueses, pois remonta ao Rei D.
Dinis que acedeu ao pedido da Rainha Santa, a das rosas, para erguer um templo
em honra do Divino Espírito. Alenquer foi o lugar predestinado e aí
concretizou-se o sonho régio de Santa Isabel. A devoção adquiriu cambiantes
caprichosos, quer no Continente quer nas ilhas. Pegou com facilidade no ânimo dos
madeirenses e com maior exuberância cresceu, nem sempre com os melhores
nutrientes espirituais. Deixemos, porém, este segmento para outa altura.
Hoje,
sendo Dia do Espírito, adiciono-lhe o plural declarativo: Dia dos Espíritos.
Porque, assim como estamos vivendo com naturalidade e, paradoxalmente, com
assombro, a evidência da biodiversidade do Planeta, também se há-de reconhecer
e relevar a Biodiversidade do Espírito.
Onde
fui eu buscar esta interpretação extensiva, talvez imprevisível a olho nu?...
Precisamente ao LIVRO, nosso GPS hebdomadário, no texto de Paulo de Tarso, em
Carta dirigida aos habitantes de Corinto, capítulo 12:
De facto, há
diversidade de dons espirituais,
mas o Senhor é o mesmo.
Há diversas operações,
mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.
Em cada um se manifestam os dons do Espírito
para o bem comum.
Assim como o corpo é um só e tem muitos membros
e todos os membros, apesar de numerosos,
constituem um só corpo,
assim também sucede com Cristo.
Vale
a pena consultar o texto integral da Carta, para nos apercebermos da citada
diversidade de dons e talentos incarnados em cada espírito - que é o nosso! - construído
neste laboratório de vasos comunicantes, formando este ‘maravilhoso mundo novo’
que dá pelo nome de composto psico-somático. Conquanto invisível, intocável, o
Espírito percorre toda a rede vital que atravessa o organismo, desde o cérebro
cimeiro até à planta radicial dos nossos pés. E é em todo este percurso
existencial, concreto, que se ´despe´ o Espírito, numa nudez tangível,
persuasiva, poderosa como a força de um íman irresistível. Poucas vezes damos
por isso, sendo certo que é esse o pódio que coloca o Ser Humano como ‘Rei da Criação’!
Apetece aproximar-me de Fernando Pessoa para ouvir-lhe repetir: “O bonómio de Newton é tão belo como a Vénus
de Milo. O que há é pouca gente a dar por isso”
Em
cada um de nós fumega uma parcela da chama do Espírito.
E
de cada um de nós depende que ela esmoreça ou que ela se incendeie em catadupas
de luz à nossa volta. Do Espírito incarnado no corpo dependem todas as células
transformadoras e todos os motores que põem o Planeta em perpétuo movimento, muito
maior que o amplo movimento de translação sideral. Ninguém está a mais nesta circunavegação
planetária, desde o génio de Einstein até ao camponês, de pés descalços e
enxada na mão, a irrigar as terras para alimentar a humanidade. “Diversas são as operações, mas é o mesmo o
Espírito que actua em tudo, para o bem
comum” – insiste o Apóstolo das Gentes.
Extraordinário,
fulgurante o grande e único escopo do Espírito: “O bem comum” !!! … Deixo apena como sugestão esta afirmação
peremptória de Paulo de Tarso, definidora da autêntica identidade do Espírito.
Só merece o estatuto de portador do Espírito quem no mínimo que, faça, sinta que
colocou uma pedra, um tijolo, uma estaca na construção do todo global. Por
outras palavras, seguiríamos na esteira do génio das sínteses, Pierre Teilhard
de Chardin, caminhando todos até perfazer o
Alfa e o Omega da grande Ogiva da História.
23.Mai.21
Martins Júnior
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