À
hora que escrevo, estou a vê-lo em vida – “EM VIDA”, era o seu lema – descendo o
templo do Campo Grande, com a estatura de um gigante e o semblante transparente de uma criança que a todos nos
tocava e prendia. No transepto, jazia o féretro de Maria Barroso, aquela que
foi inseparável esposa de Mário Soares. Era a última despedida da sua igreja. Já
lá vão seis anos feitos.
Entre
a multidão imensa, Monsenhor Feytor Pinto deparou-se com um septuagenário,
anónimo e discreto, também sacerdote, embora proscrito pela hierarquia na sua ilha. E o
Padre Feytor Pinto sabia-o bem.
- Então, vieste de tão
longe?
– Sim, vim ao funeral da
Dona Maria Barroso.
- Não fiques aqui, vai lá
à frente, paramentar-te com os nossos colegas para a concelebração.
O
septuagenário aceitou o generoso gesto do Pároco do Campo Grande, embora
timidamente, pois lá estava a hierarquia nacional e vaticana concelebrantes das
exéquias litúrgicas.
Jamais
esquecerei a altitude evangélica e corajosa de Monsenhor Feytor Pinto, que
sendo um alto dignitário da Igreja, recusava que o chamassem por outro título
que não fosse o de simples Padre, Irmão e Pastor.
APÓSTOLO
DA INCLUSÃO!
“EM
VIDA” : com as crianças, os jovens, os casais, os doentes, os idosos. Vi-o e
confirmei-o, todas as vezes que me recebia no seu gabinete, o seu Campo. Aí
encontrei serena bússola para as duras encruzilhadas ocorridas na vida. Outros,
muitos outros dirão o mesmo.
Campo
Grande, a sua igreja. Mas ele era Maior que ela!
Por
isso, beijo-lhe as mãos – gélidas da tumba, mas quentes do afecto que perpetuou
no mundo.
Ficará
sempre connosco, como “EM VIDA”!
07.Out.21
Martins Júnior
Compartilho a análise e o estilo, sobre o P. Feitor Pinto. Sempre que nos encontrávamos era de uma afabilidade extrema. Podemos esquecer isso, mas o Pai não esqueceu. Paz na sua VIDA.
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