quarta-feira, 7 de agosto de 2024

AFINAL, HÁ UM OUTRO MUNDO… AQUI!!!

                                                                        






Apresso-me a corrigir a entrada do blog anterior - entrada a contragosto neste Agosto/2024.

 Sem negar a realidade trágica que faz deste mundo um vulcão suicida, uma outra visão feliz e reconfortante perpassa aos nossos olhos - o estendal multicolor de um mundo saudável, palpitante de sonhos e auspiciosas metas concretizadas pelo talento e pela força atlética de homens e mulheres como nós, sobretudo daqueles e daquelas que detêm o capital do Futuro: os jovens.

Situo-me às portas do mês oitavo, 26 de Julho. E quedo-me embevecido, galvanizado, tocado pelo desejo irresistível de correr às margens do Rio Sena, saltar para uma daquelas fragatas engalanadas e erguer a bandeira do meu país, as bandeiras de todos os países do mundo, cantando a plenos pulmões o ‘Hino da Alegria’ de Ludwing von Beethoven, extensivo não apenas à Europa, mas a todos os viventes do planeta.

         Perante a armada gloriosa de numerosas embarcações desfilando garbosas e livres, no convés braços abertos para os milhares de espectadores, rendi-me à evidência e exclamei: Que belo, que sonho este de entrar assim, a todo o gosto, no Agosto/24! Esqueço, relativizo tudo o resto e comparo esta visão - homérica na sua grandeza e tão emotiva na sua transparência – comparo-a atentamente com o negrume de destruição em que se afoga o mesmo mundo.

         Mas este é outro mundo. Em vez dos mísseis e morteiros da morte, os jovens aqui transportam o remo que torna em cristais de espuma o azul das ondas marinhas. Em vez dos camuflados de guerra, ostentam as espáduas reluzentes e os braços alados nas piscinas olímpicas. Em vez de metralhadoras letais, empunham as raquetes e substituem as munições traiçoeiras pelas bolas miniaturais do ping-   -pong ou do esforçado ténis. E em vez dos gritos aflitivos de Gaza ou Kiev, aqui o largo e majestoso Sena  estremece de espasmo inebriante com os bailados, os coros e as canções – o indiscritível Imagine de John Lennon! – os espectáculos de luz  e som  com que  as margens brindam o velho rio.

Verdadeiramente há um Outro Mundo!... Até Sua Majestade a Torre Eiffel e Sua Alteza o Palácio de Versailles curvaram-se e abriram alas a Sua Beleza o Desporto, não o dos milhões da nova e rica escravatura futebolística, mas o autêntico Desporto - tal qual  preconizava o poeta romano Juvenalis, Anima sana in Corpore sano, Alma sã num Corpo são  – um Desporto Saudável, infelizmente considerado na praça oficial como modalidades menores.

Não se pense, porém, que os JO se reduzem à encenação romântica, quase um dolce farniente quadrienal. De todo. Ali há luta, há esforço, há também frustrações, lágrimas de sucesso ou insucesso. Mas sempre em prol da superação do ser humano, Homem e Mulher, sempre sonhando “Mais Alto e Mais Além”. E sempre com os pés na terra. No sub-mundo das guerras há inimigos, no futebol há adversários. Nos JO não há inimigos nem adversários. Há concorrentes, apenas, empenhando-se paralelamente para atingir o vértice da perfeição.  Na mesma lógica – mas quem sou eu para interferir no Comité Olímpico Internacional ? – acho intrusas e contraditórias as modalidades do box e do tiro.

    Na Antiga Grécia, berço das Olimpíadas, decretavam-se tréguas em todo o reino. Incorporava-se até na sua génese a marca da sacralidade. Era sagrado, dedicado aos deuses, todo o programa das Jogos  Olímpicos. Transplantando para os nossos dias o espírito ateniense, entendo plenamente justificável vedar o acesso de certos países beligerantes, actualmente fomentadores da guerra. Verdade seja dita: os atletas, os artistas não têm culpa dos regimes em que nasceram. Quase sempre são contra e, por isso, vêem-se obrigados a abandonar o próprio país.   Veja--se o caso de Artem Nych, ciclista russo, vencedor da VOLTA a Portugal. Mas a festa do Abraço Planetário congeminado na emblemática apoteose dos JO não pode servir de biombo para camuflar os instintos bélicos, reinantes na barbárie de regimes que estão nos antípodas dos ideais olímpicos.

Por que tremendo aborto da natureza, põem armas e sangue nas mãos dos jovens em vez de bandeiras patrióticas e velas pandas navegando para a meta dos  portos seguros?!

A todos quantos empenharam talento e força braçal na proa das  caravelas do século XXI, quais argonautas na demanda de um Mundo Novo, onde valha a pena viver… Bem hajam agora e sempre !!!

 

 05-07.Ago.24

Martins Júnior

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