Portugal
está transformado na “Babilónia dos Gentios”, de onde emerge uma descomunal “Torre de Babel” batida e perfurada por vozearias
sem nexo, furacões quase tribais e munições de artilharia pesada. É o espectáculo
puro e duro, desde as medicinas nucleares, até às tragicomédias alarves da corrupção
na alta finança e aos pregões embandeirados das eleições europeias.
Mais avassalador, porém, é o ‘tsunami’ de
tinta que irrompe dos tapetes verdes dos
estádios. Tinta, gritos, espasmos, neuroses, foguetes e lágrimas, enfim,
trovões e truões que põem este país em pânico, mais que em sentido. O
rei-futebol arrasa tudo, ultrapassa a léguas todos os debates sobre a Europa, a
Economia, a Saúde, o Ambiente.
Talvez
nem valesse a pena prestar ouvidos à barafunda irracional que, sobretudo fora
das quatro linhas, o futebol provoca. Só o faço para destacar neste momento a
amplitude das declarações condensadas nos últimos parágrafos deste texto.
Quem
se debruça, mesmo que por instantes, sobre o fenómeno “futebol” bem depressa se
dá conta de que estamos perante um sério “caso de estudo”, em virtude das
emoções, cargas explosivas, desvios, “rugidos”, ameaças, esgares - tudo
manifestações exteriores de uma esquizofrenia colectiva que não conhece
fronteiras. Os olhos não mentem porque é de todos os dias o frenesim paranóico
com que se apresenta o futebol. E o mais sintomático é a enorme bola de fogo
que se forma em redor da bola de futebol. Primeiro, são os “homens de preto”,
enxovalhados, despidos e assados na praça pública. São os comentadores sem
freio, “doutorados” em bola que discutem até aos dentes o milímetro mais
adiantado ou mais atrasado do jogador – um milímetro maior e mais palmar que as
línguas eriçadas dos quatro ou cinco analistas. O mais ‘divertido’ é quando são
os políticos profissionais que, em vez de tratarem dos problemas do país, se assentam
nos cadeirais das tertúlias televisivas… Há também os “ódios velhos” entre
nortistas e sulistas, fisgas estrábicas entre as cores deste contra aquele.
Juntam-se as tribunas e os tribunais das federações e conselhos disciplinares,
os juízes de Direito mais apedrejados que os juízes do rectângulo. E no meio
deste 'manicómio' a céu aberto, pergunta-se: Onde é que anda a bola, o
desporto, alguém os viu?... Mas falta ainda o “deus supremo” que incendeia a
paisagem galáctica do futebol: o dinheiro, as luvas, as golpadas - os milhões (neste banco não há milhares) e os
biliões dos campeonatos, dos artistas (há quem lhes chame os novos gladiadores
do Império) as tentativas de branqueamento e fuga ao fisco. E lá vem a mesma
toada batida: Onde é que anda bola no meio de tudo isto, onde é está o
desporto?...
Está
patente no mercado nacional a inflação saturante do futebol, a violência dos
canais televisivos que, em certos dias, massacram o espectador sem que este
tenha o mínimo hipótese de opção. Foi muito
clara e assertiva a opinião, revelada num recente programa, de quatro
jornalistas estrangeiros, correspondentes em Portugal, criticando a obesidade
do futebol na nossa comunicação social, em contraste com a sóbria programação
nos ‘media’ dos respectivos países.
No
entanto – e é esta a nota dominante do texto de hoje – hão-de ficar em letras
de ouro nos futuros anais do futebol português as eloquentes palavras do
técnico vencedor da Taça da Liga quando, no auge celebrativo do grande feito,
assim falou aos seus gloriosos atletas:
“Esta
vitória da reconquista é importante. Mas nas nossas vidas e na nossa sociedade há coisas mais importantes que
o futebol, a nível político, económico e a nível da saúde. Se nós pusermos a
mesma ambição e a mesma determinação na solução destes problemas teremos de
certeza um país melhor”.
Nunca
ninguém falou assim neste país. Talvez seja esta a maior vitória de todo o
campeonato. Oxalá que a sua mensagem seja a “Laje” e o alicerce de um novo projecto
para o Desporto em Portugal. Bem haja!
19.Mai.19
Martins Júnior
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