sexta-feira, 7 de junho de 2019

“DIA D”: MACHICO E NORMANDIA UNIDOS NO DESEMBARQUE


                                                              

             Dois braços alçados na proa do navio e milhares de lenços brancos no cais - eis o soberbo postal marcado a ouro no atlântico azul marinho deste mês de Junho. Ontem, o mundo festejou a entrada dolorosa, mas vitoriosa, dos Aliados nas praias normandas, já lá vão 75 anos. Hoje, amanhã e depois, as naus do Infante “desembarcam” gloriosas no estuário materno da baía  de Machico. É a grande apoteose do “Mercado Quinhentista”.
Circunstâncias opostas, é certo, definem os dois eventos. Naquele, era a reconquista da paz em terras e gentes sufocadas pelo nazismo. Neste, era a paz da baía abraçando os conquistadores dos mares. Mas nos dois desembarques vejo claramente a geminação perfeita dos ideais transportados no ânimo da marinhagem que aportou aos dois “desembarcadouros”. Ambos implantaram o padrão imorredoiro de um bem maior para o presente e para o futuro: a concórdia universal, o abraço planetário, em todas as latitudes, povos, credos e línguas. Um abraço reprodutivo em todas as suas dimensões. No mesmo gesto de desembarcar – com quase 600 anos de separação cronológica -  voava mais alto o mesmo sonho: desenvolver, produzir, construir uma terra melhor!
                                                    

Terá sido sempre assim?
A história aí está para desmenti-lo. Com grande mágoa e não menos desprimor para a condição humana. Quanto a Machico, jamais a história esquecerá o desembarque das tropas expedicionárias do governo da ditadura salazarista contra o povo madeirense e os oficiais revoltosos de 1931. Mais tarde, em 1936, nova investida das “forças da ordem”  contra a indefesa população rural, revoltada justamente contra o monopólio dos lacticínios. Houve mortos e feridos. E – pasme-se – após a data libertadora do 25 de Abril de 1974, “desembarcaram” em plena vila, hoje cidade, de Machico vários contingentes militares armados contra o povo de Machico, unido no seu direito à democracia e à verdadeira autonomia.   
                                         

Não será despiciendo, bem pelo contrário, juntar ao “Dia D”  toda a conjuntura que lhe deu significado e projecção. Seria sumamente mobilizador das consciências olhar o Desembarque das caravelas henriquinas, não apenas na superficialidade visual pictórica da paisagem, mas interpretar os múltiplos “desembarques” em nosso redor, uns benfazejos e positivos, outros inibidores da nossa identidade telúrica, humana.  
Pela minha parte, tento chegar-me  mais perto para ver mais longe. A história é um movimento circular de chegadas e partidas. Nesse cíclico rodopio em que somos inelutavelmente envolvidos, senão mesmo triturados sem dar por isso, leio a grande mensagem: CADA DIA É “DIA D”!
E depende de nós que ele cumpra o seu plano inicial: desenvolver, produzir, valorizar a terra que é nossa!

07.Jun.19
Martins Júnior   

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