Dois
braços alçados na proa do navio e milhares de lenços brancos no cais - eis o
soberbo postal marcado a ouro no atlântico azul marinho deste mês de Junho.
Ontem, o mundo festejou a entrada dolorosa, mas vitoriosa, dos Aliados nas
praias normandas, já lá vão 75 anos. Hoje, amanhã e depois, as naus do Infante “desembarcam”
gloriosas no estuário materno da baía de
Machico. É a grande apoteose do “Mercado Quinhentista”.
Circunstâncias
opostas, é certo, definem os dois eventos. Naquele, era a reconquista da paz em
terras e gentes sufocadas pelo nazismo. Neste, era a paz da baía abraçando os
conquistadores dos mares. Mas nos dois desembarques vejo claramente a geminação
perfeita dos ideais transportados no ânimo da marinhagem que aportou aos dois “desembarcadouros”.
Ambos implantaram o padrão imorredoiro de um bem maior para o presente e para o
futuro: a concórdia universal, o abraço planetário, em todas as latitudes,
povos, credos e línguas. Um abraço reprodutivo em todas as suas dimensões. No mesmo
gesto de desembarcar – com quase 600 anos de separação cronológica - voava mais alto o mesmo sonho: desenvolver,
produzir, construir uma terra melhor!
Terá
sido sempre assim?
A
história aí está para desmenti-lo. Com grande mágoa e não menos desprimor para
a condição humana. Quanto a Machico, jamais a história esquecerá o desembarque
das tropas expedicionárias do governo da ditadura salazarista contra o povo
madeirense e os oficiais revoltosos de 1931. Mais tarde, em 1936, nova investida das “forças da ordem” contra a indefesa população rural, revoltada
justamente contra o monopólio dos lacticínios. Houve mortos e feridos. E –
pasme-se – após a data libertadora do 25 de Abril de 1974, “desembarcaram” em
plena vila, hoje cidade, de Machico vários contingentes militares armados
contra o povo de Machico, unido no seu direito à democracia e à verdadeira
autonomia.
Não
será despiciendo, bem pelo contrário, juntar ao “Dia D” toda a conjuntura que lhe deu significado e projecção.
Seria sumamente mobilizador das consciências olhar o Desembarque das caravelas
henriquinas, não apenas na superficialidade visual pictórica da paisagem, mas
interpretar os múltiplos “desembarques” em nosso redor, uns benfazejos e
positivos, outros inibidores da nossa identidade telúrica, humana.
Pela
minha parte, tento chegar-me mais perto
para ver mais longe. A história é um movimento circular de chegadas e partidas.
Nesse cíclico rodopio em que somos inelutavelmente envolvidos, senão mesmo
triturados sem dar por isso, leio a grande mensagem: CADA DIA É “DIA D”!
E
depende de nós que ele cumpra o seu plano inicial: desenvolver, produzir,
valorizar a terra que é nossa!
07.Jun.19
Martins Júnior
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