Contra
o silêncio chinês – marchar, marchar! Por isso, retomo o “4 de Junho”, junto-me
à lágrimas das “Mães de Tiananmen” e ao clamor da consciência universal contra
o branqueamento dos tanques assassinos que esmagaram centenas, milhares de
cidadãos, a maioria estudantes, na Praça sacrilegamente chamada da “Paz
Celestial”. Como foi possível afogar, em 30 anos, o grito desesperado das
multidões esvaídas em sangue?... Quem poderá suportar a abominável afronta de
um órgão de comunicação da especialidade, ao afirmar sem escrúpulos: “Desde
aquele incidente de Tiananmen, a China tornou-se a segunda maior economia do mundo,
com acelerada melhoria dos padrões de
vida”!?...
Estranha condição, a do ser humano. No
mesmo tronco, a bela e o monstro! O tronco é o ano de 1989. O monstro é o “4 de
Junho”, o massacre, a ditadura, a desumanidade, que o regime quer disfarçar com
o satânico verniz de “avanço tecnológico e economia”. Digo ‘satânico’ porque
essa é “a economia que mata” (Francisco
Papa).
A
Bela é o “9 de Novembro” do mesmo ano –
a Queda do Muro de Berlim. Naquele, o monstro, é a vergonha arvorada em
bandeira e despudorado troféu. Nesta, é a vergonha derrubada, reduzida à ínfima
espécie que merece.
Porquê tamanha contradição nascida do
mesmo tronco?
Tudo
está na interpretação da “condição humana”, o mesmo que dizer, do direito, da
ética, da dignidade. O consultor economista Laurent Malvezon define em breves
traços o panorama sócio-ideológico chinês: “Na China, certas élites económicas
opõem abertamente a ética à eficácia”. Quer dizer: ética e progresso são
incompatíveis, o mais forte tem de sobrepor-se e anular o mais fraco, o capital
terá de subjugar o trabalho. O trabalhador feito “carne para canhão” da
economia de um país.
Por outro lado, é decisiva a função das
lideranças de um povo, seja a nível nacional, regional ou local. Daí, a
diferença fatal entre o ditador Li Peng e a personalidade democrática de Mikail
Gorbachev. Num, a opacidade cega dentro do partido, prisioneiro das oligarquias
dominantes, no outro a visão do futuro, abrangente e humanista.
O grande dilema do planeta onde
sobrevivemos está nos herdeiros do mesmo tronco comum de 1989. Que, afinal, são
os mesmos desde que o homem pisou terra habitável. Numa das trincheiras,
arregimentam-se os sequazes do monstro, fauces escancaradas famintas de lucro e
sangue, a qualquer preço. Na outra trincheira, posicionam-se os paladinos da
justiça e da verdade. Por toda a parte,
digladiam-se os dois campos, quase sempre com armas desiguais. A qual dos dois
pertencemos nós, à “Bela” ou ao “monstro”?
Lembrar, denunciar Tiananmen é impedir
que ele se repita.
05.Ju.19
Martins
Júnior
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