sábado, 15 de junho de 2019

O “ESPÍRITO DA VERDADE” CONTRA OS DOGMATISMOS ESTÉREIS


                                                                         

               É bom e é útil que em cada fim de semana o calendário me ofereça um dia ímpar. Serve-me para haurir dos textos bíblicos dominicais preciosas fontes de inspiração com as quais sacio a sede de saber e o estímulo para o blog hebdomadário.
         Hoje, por exemplo, recorto um sábio axioma, à maneira de um adeus do Nazareno aos homens e mulheres a quem Ele deixaria o mandato de transmitir ao mundo as suas mensagens. E diz assim: “Há muitas outras coisas que quero dizer-vos, mas não é possível por enquanto, pela simples razão que nesta altura vós não sereis capazes de compreender. Mas garanto-vos que mais tarde compreendereis, naquele dia em que vier o Espírito da Verdade”. (Jo. 16,12-13).
         Qual seja a amplitude do conceito de “Espírito da Verdade” que desvendará realidades ocultas em dado momento da história, pode constatar-se à evidência que tal axioma pertence ao código científico de todos os tempos, o de ontem, o de hoje, o do futuro. No domínio científico, o saber é sempre provisório, no sentido de que a cada conclusão ou descoberta segue-se o mesmo ciclo da “tese-antítese-síntese”, movimento concêntrico que nos desafia para novas perspectivas e novas descobertas. O surto  tecnológico, todos os dias reproduzido na ponta de cada avanço da ciência, postula sempre um outro patamar que nos incentiva a subir e a descobrir. Daí que o verdadeiro cientista é aquele que quanto mais alto sobe mais distante fica do seu anseio primeiro, o que o torna humilde e pequeno diante dos grandes enigmas da natureza e fá-lo exclamar como o grande filósofo: “Só sei que nada sei”. E com isto se prova que o dogmatismo está fora do verdadeiro espírito científico, pois conduz inevitavelmente ao imobilismo e à intolerância.
         O objectivo, porém, do texto bíblico em apreço tem a ver com as questões mais profundas da filosofia e da teologia, este o húmus preferencial dos demagogos, seja qual a tendência religiosa ou o pensamento dirigista. Esses são os pretensamente gurus e pregadores – prefiro chamá-los predadores das mentes – cujo programa consiste exclusivamente na paralisia do pensamento, na anestesia crítica, na aceitação cega do dogma vigente. Falta-lhes a frescura mental para apreciar outras paragens, falta-lhes a energia necessária para subir a montanha do saber. Numa palavra, escasseia-lhes o sonho, pelo qual “o mundo pula e avança”. No processo da educação religiosa, então a inércia e a castração servem de armadilhas certeiras nas mãos de dignitários estáticos para truncar o desejo inato de crescer, de forma consciente e autónoma. Basta assistir às investidas sem pudor de certas eminências pardas contra as tentativas inovadoras de Francisco Papa!
         É urgente vencer o medo atávico que estruturas anquilosadas, falidas, pretendem injectar no organismo jovem dos nossos tempos. É urgente que todos os crentes – e todos os homens – abram as janelas do seu espírito para receberem a força dinamizadora do Espírito da Verdade afim de compreendermos hoje o que anteriores gerações atrofiadas não conseguiram alcançar.
         Sejamos sensíveis ao convite do Mestre.
E seremos mais lúcidos e livres!
        
15.Jun.19
Martins Júnior   
            

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