É
bom e é útil que em cada fim de semana o calendário me ofereça um dia ímpar.
Serve-me para haurir dos textos bíblicos dominicais preciosas fontes de inspiração
com as quais sacio a sede de saber e o estímulo para o blog hebdomadário.
Hoje, por exemplo, recorto um sábio axioma,
à maneira de um adeus do Nazareno aos homens e mulheres a quem Ele deixaria o
mandato de transmitir ao mundo as suas mensagens. E diz assim: “Há muitas
outras coisas que quero dizer-vos, mas não é possível por enquanto, pela
simples razão que nesta altura vós não sereis capazes de compreender. Mas
garanto-vos que mais tarde compreendereis, naquele dia em que vier o Espírito
da Verdade”. (Jo. 16,12-13).
Qual seja a amplitude do conceito de “Espírito
da Verdade” que desvendará realidades ocultas em dado momento da história, pode
constatar-se à evidência que tal axioma pertence ao código científico de todos
os tempos, o de ontem, o de hoje, o do futuro. No domínio científico, o saber é
sempre provisório, no sentido de que a cada conclusão ou descoberta segue-se o
mesmo ciclo da “tese-antítese-síntese”, movimento concêntrico que nos desafia
para novas perspectivas e novas descobertas. O surto tecnológico, todos os dias reproduzido na
ponta de cada avanço da ciência, postula sempre um outro patamar que nos
incentiva a subir e a descobrir. Daí que o verdadeiro cientista é aquele que
quanto mais alto sobe mais distante fica do seu anseio primeiro, o que o torna
humilde e pequeno diante dos grandes enigmas da natureza e fá-lo exclamar como
o grande filósofo: “Só sei que nada sei”. E com isto se prova que o dogmatismo
está fora do verdadeiro espírito científico, pois conduz inevitavelmente ao
imobilismo e à intolerância.
O objectivo, porém, do texto bíblico em
apreço tem a ver com as questões mais profundas da filosofia e da teologia,
este o húmus preferencial dos demagogos, seja qual a tendência religiosa ou o
pensamento dirigista. Esses são os pretensamente gurus e pregadores – prefiro chamá-los
predadores das mentes – cujo programa consiste exclusivamente na paralisia do
pensamento, na anestesia crítica, na aceitação cega do dogma vigente.
Falta-lhes a frescura mental para apreciar outras paragens, falta-lhes a energia
necessária para subir a montanha do saber. Numa palavra, escasseia-lhes o
sonho, pelo qual “o mundo pula e avança”. No processo da educação religiosa,
então a inércia e a castração servem de armadilhas certeiras nas mãos de dignitários
estáticos para truncar o desejo inato de crescer, de forma consciente e
autónoma. Basta assistir às investidas sem pudor de certas eminências pardas
contra as tentativas inovadoras de Francisco Papa!
É urgente vencer o medo atávico que
estruturas anquilosadas, falidas, pretendem injectar no organismo jovem dos nossos
tempos. É urgente que todos os crentes – e todos os homens – abram as janelas
do seu espírito para receberem a força dinamizadora do Espírito da Verdade afim
de compreendermos hoje o que anteriores gerações atrofiadas não conseguiram
alcançar.
Sejamos sensíveis ao convite do Mestre.
E
seremos mais lúcidos e livres!
15.Jun.19
Martins Júnior
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