quarta-feira, 31 de julho de 2019

UM “FURADO” DE EQUÍVOCOS


Propositadamente recorro ao dialecto ilhéu – “Furado” – porque é disso mesmo que se trata: um tunelzinho recheado de velharias, sem  talento nem originalidade, tresandando ao mofo dos velhos baús. Devo dizer que nunca me predisporia à crónica de hoje (mais a mais em tempo ameno de férias a abrir)  se não fora a “originalidez” de um entrevistador todo-o-terreno da nossa praça, quando desceu ao Paço Episcopal para, entre outras charlas, indagar do Bispo do Funchal se “garantia que o padre Martins cumpriria a promessa de não entrar mais na política activa” e à qual o Prelado Diocesano respondeu com mestria e civismo.
         Quanto ao conteúdo da pergunta, de tão gasta e regasta, já se tornou enjoativa, sabendo toda a gente que deixei definitivamente as lides parlamentares há 14 anos e as funções autárquicas há mais de 20.
         Mas a “sábia originalidez” encobria outra laracha e outro destinatário: fazer crer ao público telespectador que a minha suspensão (de há 42 anos) tinha por fundamento a participação na vida política activa. Quantos milhares de vezes mais terei de reafirmar que a minha suspensão nada teve a ver com tal pressuposto?... Já foi dito e repetido que aquando da dita suspensão não era nem presidente de câmara, nem deputado (tinha renunciado ao cargo no ano anterior) nem sequer candidato. Fui suspenso porque o Senhor Bispo Santana, naquele Domingo de Crismas na igreja matriz de Machico, não me permitiu concelebrar (e tinha-o feito em 1975 quando aí eu presidia ao município…) também não me permitiu ser padrinho de um crismando (exibi então o boletim assinado pelo pároco) e, finalmente, para pasmo de toda a gente exigiu que eu abandonasse o templo, “Sem saíres da igreja, não começo o Crisma. E se não saíres, vou-te suspender a Divinis”. Claro que não saí. Na Segunda-feira, saía o solene Decreto(!!!) da suspensão. Falta dizer que o Bispo Francisco Santana (Deus o tenha) preferiu suspender-me em vez de administrar o Crisma a quase uma centena de jovens que ali estavam com seus padrinhos e familiares. Não houve Crismas.
         Foi a partir dessa data que resolvi recandidatar-me à Assembleia Regional, à qual tinha renunciado anteriormente, como já referido. Mesmo assim, tomei mais tarde a decisão de, perante o novo Bispo Teodoro Faria, colocar com toda a transparência as cartas na mesa: “Se o Senhor Bispo não quer que eu seja deputado, devolva-me a jurisdição da paróquia da Ribeira Seca. Porque, então, já nem poderei ser candidato, sou inelegível, por força da lei. Está na sua mão”.
     Ele está vivo e bem pode testemunhá-lo. E acrescentar que não teve coragem de aceitar a minha proposta. Pelo que, posso afirmar com toda convicção que foi a Diocese – os seus Prelados – quem me ‘empurrou’ para a vida política. Esclareço, ainda, que ser deputado não é rigorosamente impeditivo de ser padre, desde que não tenha jurisdição como pároco. E prova-o o facto histórico do Padre Dr. Agostinho Gonçalves Gomes, meu antigo e distinto professor, então Vigário Geral da Diocese, ter sido deputado da nação na Assembleia Nacional, pelo partido de Oliveira Salazar.
         Espero não ter de voltar mais a este tema, que o sr. Entrevistador quis meter num desajeitado “Furado” de equívocos e embustes, sendo que o maior de todos foi ter a veleidade – indigna de uma informação isenta – de afirmar que eu fora “militante”. Só faltou dizer de que partido. Consulte os Diários da Assembleia e retrate-se diante de todo o auditório da RTP/M.
         Nunca fui militante. Fui sempre “independente”, Como o Povo, a que pertenço.

         31.Jul.19/01.Ago.19
           Martins Júnior     

1 comentário:

  1. Caro amigo, a luta pela verdade continua e o povo não esquece... grande abraço Slap

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