Propositadamente
recorro ao dialecto ilhéu – “Furado” – porque é disso mesmo que se trata: um
tunelzinho recheado de velharias, sem
talento nem originalidade, tresandando ao mofo dos velhos baús. Devo
dizer que nunca me predisporia à crónica de hoje (mais a mais em tempo ameno de
férias a abrir) se não fora a “originalidez”
de um entrevistador todo-o-terreno da nossa praça, quando desceu ao Paço
Episcopal para, entre outras charlas, indagar do Bispo do Funchal se “garantia
que o padre Martins cumpriria a promessa de não entrar mais na política activa”
e à qual o Prelado Diocesano respondeu com mestria e civismo.
Quanto ao conteúdo da pergunta, de tão
gasta e regasta, já se tornou enjoativa, sabendo toda a gente que deixei
definitivamente as lides parlamentares há 14 anos e as funções autárquicas há mais
de 20.
Mas a “sábia originalidez” encobria
outra laracha e outro destinatário: fazer crer ao público telespectador que a
minha suspensão (de há 42 anos) tinha por fundamento a participação na vida
política activa. Quantos milhares de vezes mais terei de reafirmar que a minha
suspensão nada teve a ver com tal pressuposto?... Já foi dito e repetido que
aquando da dita suspensão não era nem presidente de câmara, nem deputado (tinha
renunciado ao cargo no ano anterior) nem sequer candidato. Fui suspenso porque
o Senhor Bispo Santana, naquele Domingo de Crismas na igreja matriz de Machico,
não me permitiu concelebrar (e tinha-o feito em 1975 quando aí eu presidia ao
município…) também não me permitiu ser padrinho de um crismando (exibi então o
boletim assinado pelo pároco) e, finalmente, para pasmo de toda a gente exigiu
que eu abandonasse o templo, “Sem saíres da igreja, não começo o Crisma. E se
não saíres, vou-te suspender a Divinis”. Claro
que não saí. Na Segunda-feira, saía o solene Decreto(!!!) da suspensão. Falta
dizer que o Bispo Francisco Santana (Deus o tenha) preferiu suspender-me em vez
de administrar o Crisma a quase uma centena de jovens que ali estavam com seus
padrinhos e familiares. Não houve Crismas.
Foi a partir dessa data que resolvi
recandidatar-me à Assembleia Regional, à qual tinha renunciado anteriormente,
como já referido. Mesmo assim, tomei mais tarde a decisão de, perante o novo
Bispo Teodoro Faria, colocar com toda a transparência as cartas na mesa: “Se o
Senhor Bispo não quer que eu seja deputado, devolva-me a jurisdição da paróquia
da Ribeira Seca. Porque, então, já nem poderei ser candidato, sou inelegível,
por força da lei. Está na sua mão”.
Ele está vivo e bem pode testemunhá-lo. E
acrescentar que não teve coragem de aceitar a minha proposta. Pelo que, posso
afirmar com toda convicção que foi a Diocese – os seus Prelados – quem me ‘empurrou’
para a vida política. Esclareço, ainda, que ser deputado não é rigorosamente impeditivo
de ser padre, desde que não tenha jurisdição como pároco. E prova-o o facto
histórico do Padre Dr. Agostinho Gonçalves Gomes, meu antigo e distinto
professor, então Vigário Geral da Diocese, ter sido deputado da nação na
Assembleia Nacional, pelo partido de Oliveira Salazar.
Espero não ter de voltar mais a este tema,
que o sr. Entrevistador quis meter num desajeitado “Furado” de equívocos e
embustes, sendo que o maior de todos foi ter a veleidade – indigna de uma
informação isenta – de afirmar que eu fora “militante”. Só faltou dizer de que
partido. Consulte os Diários da Assembleia e retrate-se diante de todo o
auditório da RTP/M.
Nunca fui militante. Fui sempre “independente”,
Como o Povo, a que pertenço.
31.Jul.19/01.Ago.19
Martins Júnior
Martins Júnior
Caro amigo, a luta pela verdade continua e o povo não esquece... grande abraço Slap
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