Ao
desenhar o título desta noite adivinho logo logo as instintivas suspeições que
ele suscita, ao menos por parte de quem vê na propriedade privada o único dogma
e a matriz inalienável de toda a condição humana. Daí passa logo logo ao
inapelável anátema da praxe: “Ui, que
isto cheira a pólvora, Ui que aí vem o colectivismo marxista, a mais bruta barbárie,
o roubo legalizado”!
Longe
disso. Paradoxalmente, é o seu contrário que pretendo defender e transmitir. E
por mais estranho que pareça, fui desencantar esta ideia numa entrevista de
Jair Bolsonaro à imprensa internacional, na qual o conhecido opositor dos mais
elementares direitos humanos respondeu ao clamoroso protesto das nações,
sobretudo de Emmanuel Macron e Angela Merkel: “A Amazónia é do Brasil, não é de vocês”! Assim, o presidente de um país pejado de gritantes
desigualdades sociais justificava o tremendo crime ambiental que está em curso
impune no maior pulmão do Brasil e no seguro estabilizador dos ecossistemas do
planeta. Resposta esfarrapada – dir-se-ia na gíria popular. E sê-lo-ia apenas
isso, “esfarrapada”, se não colidisse com o bem estar social, a manutenção desta
“Casa Comum”, que é de todos e para todos. Resposta escabrosa, obscena, tribal!
Tanto
mais ruinosa e condenável esta ideologia, a roçar a paranoia, quando se sabe
que é nesse infecto epicentro que assentam os regimes de pendor nacionalista, monopolista,
populista e afins, que abalam a paz mundial. Enquanto cada país e cada região
fizerem dos seus recursos uma arma exclusivista da sua economia e da sua
prepotência, não é possível andar por aqui. Direi, no limite, não vale a pena
nascer. Ninguém poderá subsistir de pé
quando à força da razão se sobrepuser a razão da força.
Nesta conjuntura, a razão está na vivência da
verdadeira globalização, aquela que sendo universalista no seu conceito mais
amplo, reproduz-se em círculos gradualmente mais próximos de todos nós: o país,
a cidade, a aldeia, e escola, a rua, a casa que habitamos. É desolador ver a
olho nu a insensibilidade – que mais não é que o culto do mais rasteiro egoísmo
– no âmbito da arquitectura paisagística, no descontrolo dos ruídos, na forma,
até, de estacionar a viatura (como se a rua não pertencesse a todos), na
poluição e desperdício das águas, no desrespeito pela floresta e, daí, a
deflagração de incêndios devastadores.
Será
preciso inscrever nos códigos jurídicos e, sobretudo, na consciência da grei o
precioso normativo dos “direitos difusos” (e consequentes deveres) em virtude
dos quais todos temos o direito de disfrutar do coeficiente inato da dignidade
humana, na higiene, na alimentação, na saúde, no ar que respiramos, na água que
bebemos, enfim, de nos sentirmos seguros e bem na “nossa casa”, que é também “casa
dos outros”.
Até
onde levar-nos-iam estas pistas de responsabilidade solidária?!
Trago-as
hoje, na abertura do almejado período de férias, propício à saúde ecológica
noutras paragens, diversas do nosso quotidiano, mas ao mesmo tempo propensas a
abusos e riscos motivados pela inconsciência dos “direitos difusos” e
respectivas obrigações.
Contra
a boçalidade irresponsável das declarações bolsonarianas, ofereço-vos este
breve diálogo, vivido aquando das minhas anteriores lides autárquicas:
O
PROMOTOR (DONO ) DA OBRA
- Eu quero o prédio assim, e mais assim, e com
tantos andares, tem de subir tantos metros acima dos outros.
O
RESPONSÁVEL AUTÁRQUICO
- Desculpe, mas não será possível, porque o
RGEU (Regulamento geral das Edificações Urbanas) não lho permite. Há a
densidade, os afastamentos,, a paisagem envolvente, as existências. Não lhe é
permitido infringir direitos de terceiros.
O
PROMOTOR, embarcadiço, endinheirado:
- Mas o terreno é meu, o
dinheiro é meu, faço o que quiser.
UM VIZINHO, homem mediano, de condição
popular. Aproxima-se e pede licença para entrar na conversa. Dirige-se
directamente ao Promotor:
- O terreno é seu, o
dinheiro é seu. Mas o ar é nosso, a paisagem é nossa!
Caso
encerrado. Reproduzo aqui a velha máxima: “Quem tem ouvidos de entender –
entenda!
29.Jul.19
Martins Júnior
bom dia, PADRE.... UM ARTIGO BEM AO JEITO DE SUA LAVRA....INCISIVO, POLÉMICO...SOLIDÁRIO!... MAS, APESAR DAS VERDADES SOBRE A AMAZÔNIA, HÁ CONETÁRIOS SUPERFICIAIS NO MEU ENTENDER... PARA COMEÇAR, A AMAZÕNIA É COMPARTILHADA POR 9 PAÍSES... E A PARTE MAIS BEM ORGANZIADA É A BRASILEIRA... EVIDENTEMENTE O BOLSONARO NÃO TEM JURISDIÇÃO SOBRE AS DEMAIS PARTS ONDE GRASSA O BANDITISMO, A EXTRAÇÃO ILEGAL DE MINÉRIOS, O TERRORISMO, O ESCONDERIJO DE EXÉRCITOS DA DROGA, ETC... A PARTE BRASILEIRA É A MAIS MEDIÁTICA MAS PENSEMOS QUE O NOSSO VALE AMAZÕNIO RECEBE TODOS OS DETRITOS QUE VÊM DOS OUTROS LADOS QUE FICAM MAIS ACIMA... HÁ UMA ASSOCIAÇÃO DE PAISES AMAZÔNICOS MAS AINDA ESTÃO PIORES DO QUE O BRASIL NO QUESITO PRESERVAÇÃO... HÁ ANOS FUI À MADEIRAE A DIRETORA DO MEIO AMBIENTE DISSE-ME QUE O BRASIL DEVERIA PRESERVAR A AMAZÔNIA...PARA BEM DO MUNDO... AÍ EU LHE RESPONDI QUE SIM, ERA VERDADE, MAS, AO VER OS MORROS EM VOLTA DA CIDADE TODOS PELADOS, SEM VEGETAÇÃO, LHE PERGUNTEI SOBRE Q QUE ESTAVAM FAZENDO PARA PRESERVAR A "AMAZÔNIA" MADEIRENSE.... FICOU EMBURRADA.... E CHATIADA...(PIMENTA NO C... DOS OUTROS É REFRESCO, COMO DIZEM AQUI...)
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