Hoje,
sexta-feira de Agosto, decretaram baixar as bandeiras a meia haste em todos os
edifícios oficiais da Região. Foi a homenagem regulamentar dada a alguém “que
da lei da morte se foi libertando”.
E
porque da lei da morte se libertou, sinto-me no dever de hastear bem alto a sua
memória, símbolo de um povo autónomo, responsável, decidido, “de antes quebrar
que torcer”, bandeira triunfal do Povo de Machico, do Povo da Madeira.
Eu não esqueço …
A
transparente cordialidade e o tratamento igualitário com que se dirigia aos deputados,
enquanto presidente do Primeiro Órgão da Autonomia Regional, respeitando
integralmente os direitos e deveres regimentais, fosse qual fosse o partido
interveniente.
Eu não esqueço…
A
serena mas corajosa seriedade quando recusou a palavra ao líder parlamentar do
seu próprio partido (mais tarde presidente do governo) quando este pretendia intervir,
à revelia das normas regimentais. Eu estava lá.
Eu não esqueço…
A
superior dignidade com que suportou a humilhação a que o sujeitaram os seus
pares na Assembleia, quando alteraram o regimento para que a votação à
presidência fosse feita por sessão legislativa, todos os anos, em vez da
eleição por legislatura, quatro anos, como vigorava desde o início.
Eu não esqueço…
A
forma diplomática, mas frontal e directa, como não aceitou a procuração do
governo regional para ser advogado contra mim, no ‘famoso’ processo de
difamação pelo desaparecimento das pratas da Assembleia Regional, o qual
terminou com a derrota do próprio governo.
Eu não esqueço…
A
sua decisiva intervenção aquando do inquérito parlamentar (movido de dentro do
partido onde eu próprio me inseria, como independente) o qual originaria a
imediata perda de mandato, não fora a sua elevada argumentação. Eu estava lá e
escutei atentamente.
Eu não esqueço…
A
sua inteireza de carácter quando, nas eleições para a Presidência da República,
apoiou publicamente um candidato à
margem do candidato oficial do seu partido na Madeira.
Eu não esqueço…
A
fidelidade às suas convicções sócio-políticas e ao seu sonho de uma Madeira
autónoma e democrática, pois que, apesar da indiferença e, até, da
marginalização a que os seus pares o votaram, nunca abandonou o código ideológico
que abraçou desde a primeira hora.
E, acima de tudo, não
esqueço…
Que
antes e depois, dentro ou fora da acção política, nunca deixámos de partilhar uma
sã convivialidade, sempre saudável, optimista, produtiva.
É
sempre assim que há-de ficar comigo, enquanto não chegar a minha hora. É sempre
assim que ele ficará também entre os conterrâneos e vizinhos em terras de
Tristão Vaz.
Ele,
Emanuel Rodrigues, monumento eloquente
das gentes de Machico, perpetua, ainda, a memória do seu patrono, no dealbar da
carreira jurídica, esse eminente machiquense, o Dr. João Gouveia de Menezes.
Conhecendo
Emanuel Rodrigues e sabendo da sua vivência discreta, avessa à
espectacularidade das homenagens mundanas, achei-me, entretanto, no dever de
prestar-lhe este modesto depoimento, vindo de quem se situava politicamente em
campos opostos, mas intimamente solidários e comprometidos com os mesmos ideais
de um Mundo Melhor.
Emanuel
Rodrigues, bandeirante da Democracia, lídimo representante da Autonomia, Honra
e Glória de Machico!
23.Ago.19
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário