A
cada qual, seu fim-de-semana. E a cada gosto, sua companhia. Daí, a interminável
banca do mercado hebdomadário: a uns o puro lazer, o sol, a praia, a montanha,
a outros os arraiais, o pimba ou o jazz,
e à turbamulta de muitos outros as chuteiras do “rei-foot”, que pode abranger
tudo o mais que seja o fútil. A cada paladar, a sua fruta.
Da
minha parte, até por coincidência de funções e serviços, opto por companhia e
fruição a descoberta de Alguém que, de tão mal conhecido, foi classificado pelo
teólogo sul-africano Albert Nolan como “Esse Grande Desconhecido”,
Hoje,
surgiu ao meu encontro esse tal “Grande Desconhecido” (e paradoxalmente tão
badalado) com um traço “novo” da sua personalidade. Para vê-lo, podem fazer
como eu: abrir o Livro e ler umas nove ou dez linhas sobre essa personagem. É
em Lucas, 13, 22-30. Habituados que estamos a cultivar uma imagem do Mestre da
Galileia em poses fotogénicas, olhos lânguidos hipnotizados por uma estranha
constelação algures ni firmamento ou como um condenado à galé da cruz, fazedor
de milagres, hoje apresenta-se-nos bem diferente. Ele próprio reconstitui o
cenário e a personagem:
“O dono da casa fechara
as portas e preparava-se para dormir. Batem-lhe à porta. O homem vê quem é,
conhece o ´noctívago grupo ‘visitante’ e responde-lhes de lá de dentro: “Vão-se
embora. Não sei de onde sois, nem vos conheço”. A trupe do exterior volta ao
batente da porta, insiste e faz valer os
seus argumentos: “Tu dizes que não nos conheces? Então não te lembras que
andámos juntos, comemos e bebemos contigo? Nós seguimos-te sempre quando
falavas em público, na sinagoga, nos
caminhos, nas praças. E não nos conheces? Olha bem e deixa-nos entrar”.
O dono da casa explode: “Já disse e repito que não vos conheço de lado nenhum. Tirem-se
já da minha porta”
São imensas e duras as ilações desta
breve parábola, em que o “dono da casa” é o Mestre Jesus e a trupe envolve
todos os devotos oportunistas, os pseudo-crentes fundamentalistas, os
rigoristas, os aduladores, os espiões ao serviço dos magnates do Templo, enfim,
a chusma de estrategas do grande palco do mundo, uns ignorantes, outros
ambiciosos à espera das benesses hierárquicas, mas todos capazes de matar o
Homem.
Mais que as duras ilações,
acompanhou-me todo o dia a redescoberta deste traço do Líder Nazareno. Para
Ele, pouco ou nada contam os espectáculos das multidões, por mais
proclamatórios e lisonjeiros que sejam. Ele detesta todas as expressões de
populismo, hipocrisia e devocionismo balofo. Ele é o Homem da verticalidade, da
acção e não receptáculo de incensos, palmas e votos pios, muito menos de
encenações embusteiras, sob a capa de culto oficial.
Durus est sermo hic – poderíamos
repetir a mesma reacção dos judeus contra o Mestre, noutras circunstâncias da
sua vida. “É forte demais esta conversa”!... Mas é a realidade. É sobretudo
para a classe a que pertenço, os eclesiásticos, os hierarcas, os do topo da
pirâmide e os que a estes se atrelam como rémoras parasitas, no dizer do grande
Padre António Vieira. Não é diferente a linguagem contundente do Papa
Francisco, quando invectiva a Cúria Romana, onde vegetam malevolamente, os
cardeais, coroados com o ridículo título de “príncipes da Igreja”.
Correndo
o risco de pisar linhas vermelhas da Dogmática institucional, ouso pôr em
dúvida certas nomeações para “Santos”, as chamadas beatificações e canonizações. E argumento; Quem é um homem para poder nomear “Santo”,
Perfeito, quase Divino, um outro ser da sua mesma condição?... Será que o “Dono do prédio”
receberá em sua casa aqueles que lá se
apresentam com as credenciais assinadas por um outro homem investido de um
poder mundano, emanado de eleitores residentes no mundo?\
Talvez esteja a resposta incluída na supra citada fala do "Dono do prédio"...
25.Ago.19
Martins Júnior
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