quinta-feira, 15 de agosto de 2019

MEMORÁVEL 15 DE AGOSTO !!!


                                                   

A palavra exacta com que deveria titular o texto deste 15 de Agosto seria um preliminar “Pedido de Desculpa”. Desculpa pela ousadia de ter aposto, lado a lado, as gravuras que encimam a mensagem deste dia, sem ao menos ter pedido autorização ao Bispo da Diocese. A justificação dá-la-ei no último parágrafo.
Devo dizer que hoje o meu propósito consistia em expor e desenvolver a nomenclatura popular com que  na Madeira se designa esta data: “O Dia das Sete Senhoras”. Deixá-lo-ei para outra oportunidade, porque hoje outro valor mais concreto e mais alto se alevantou, algo que fez deste 15 de Agosto um dia estruturalmente “ímpar”.
Refiro-me à homilia do Bispo Nuno Brás na Missa Solene da “Senhora do Monte”. Só um espírito verdadeiramente livre e autónomo – daquela autonomia que só a coragem evangélica e a coerência lógica são  capazes de dotar uma personalidade – poderia inspirar tais palavras a quem, pode dizer-se, fazia a sua estreia no grande anfiteatro da religiosidade do povo madeirense, ainda por cima, num cenário carregado de memórias recentes e, sobretudo, sob os olhares circunspectos e atentos da oficialidade regional. Sem ademanes de espectacularidade mas sem tibieza ou puritanos escrúpulos, ouviram-se ‘palavras de ordem’, rasgaram-se pistas de pensamento e acção, como talvez nunca tivessem ecoado nas paredes seculares daquele santuário mariano. Eco, possivelmente, só do vibrante Cântico  Magnificat, da liturgia do dia.
       
 “Não podem pedir aos cristãos que fiquem confinados às realidades espirituais, esquecendo-se da vida dura, do trabalho, da politica ou até do divertimento ou para que calem a verdade do homem na moral, quer dizer, em tudo o que diz respeito às escolhas (pessoais, sociais, comunitárias) que sempre temos que realizar… Isso seria aceitarmos que uma parte importante da nossa existência — aquela que diz respeito à nossa vida corporal, à nossa vida com os outros — estaria fora da salvação… Nós,  cristãos, temos não apenas o direito como o dever de falar, de lutar por uma sociedade sempre mais plenamente humana; por relações entre pessoas em que todos possam ser respeitados na sua dignidade; por modos de existência que não caiam em soluções fáceis, mas que nos tornam profundamente desumanos…  A vida democrática é uma conquista preciosa da nossa civilização,  ela faz corresponder a cada adulto um voto, sem diferenciar os eleitores pelo dinheiro que possuem, pelas capacidades que têm ou pela sua notoriedade, mas que a todos iguala pelo facto de serem seres humanos, cidadãos na posse plena das suas capacidades.”
         “Lições de abismo” – bem poderia classificar o sociólogo brasileiro Gustavo Corção estas palavras que, sendo antigas, tornam-se novas, flagrantes, galvanizadoras para os cidadãos madeirenses, habituados que foram a uma linguagem empastelada de bênçãos sacristas e subserviências aos poderosos.
         Para não empanar o brilho da intervenção, dispenso-me de quaisquer paralelos com o passado e remeto a nossa atenção para a leitura integral do texto episcopal. Apraz-me aqui repetir, em linguagem adaptada do romano ritual pontifício, a expressão “Episcopum Habemus”, a qual já ouvi  traduzida na boca de populares locais: “Pela amostra, Temos Bispo”, a que acrescento: Temos Pastor seguro e vigilante! Como ele próprio disse quando cá chegou, “não precisa de fazer o pino, para ser diferente dos outros”. O que conta é a palavra, é a acção decidida.
         Termino, justificando a justaposição das gravuras-supra. Primeiro, porque faz hoje 57 anos que, após a ordenação na Sé do Funchal pelo Bispo David de Sousa, celebrei a Primeira Missa na igreja matriz de Machico. Sem ressentimentos de espécie alguma, assinalo que foram 15 anos de padre “normal” e 42 anos de padre “suspenso”… pelos homens. Segundo motivo: fico feliz porque, mesmo suspenso,  no quadro social em que estive inserido, tentei antecipadamente realizar os ideais e as linhas programáticas enunciadas hoje pelo Prelado Diocesano no santuário do Monte. E  assim espero prosseguir viagem.  

         15.Ago.19
Martins Júnior



1 comentário:

  1. Que grande pedra no charco foi esta homilia do Sr. Bispo na sua aparição nas festas da padroeira da Madeira. Que não lhe falte coragem.

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