Dias
e mais dias oficiais da violência contra as mulheres são outras tantas e mais
noites de trágica angústia para elas. É útil a denúncia, certo, e expectável o
sucesso das medidas punitivas contra os(as) agressores (as).Mas, à força de
tanto combater, os despojos de guerra enchem as trincheiras da publicidade ‘rasca’
e produzem um efeito multiplicativo tal que quase anestesiam a consciência
individual e, pior, a sensibilidade colectiva.
Perdoar-me-ão
a ousadia de contrariar a palavra-de-ordem da campanha tantas vezes repetida: “Combater
a violência…doméstica”. Significa, então, que nas quatro paredes da habitação,
até na alcova do próprio casal, está instaurada a barbárie da selva: “dente por
dente, olho por olho”. É o reino da Violência contra Violência, que, por sua
vez, destila violência redobrada, sem fim à vista. Não será por aí que acabará
o feminicídio nem deixarão de ensopar-se em sangue os lençóis do leito
conjugal.
Sei
que é um lugar comum avisar e preconizar que tudo depende da educação, Mas essa
é que é a verdade, constatada pela narrativa diária. O fenómeno da violência
radica muito mais fundo que no caso episódico, próximo do crime, seja o ciúme,
seja o descontrolo ocasional, seja ainda a discussão de circunstância, por
maior ou menor que seja o seu conteúdo. O pendor para a violência começa já na
barriga da mãe, nos espermatozóides do pai, do avô, do tetra-avô, desenvolve-se
no terreiro da própria casa, à mesa do jantar, avoluma-se no pátio da escola,
para mais tarde consumar-se quando “chega a hora da raiva”. Tenho para mim que
há pessoas insusceptíveis de diálogo, amputadas desde a nascença da mais
elementar apetência para a harmonização de vontades, portanto, estruturalmente
indisponíveis para aquilo que melhor define o homem e a mulher: a socialização.
A tragédia acontece quando esta inibição neuro-vegetativa penetra no âmago da mini-sociedade,
a mais íntima e determinativa: a família, a vida a-dois”!
Perdoem-me,
uma vez mais, um segundo salto no imponderável e imperscrutável abismo da
psico-sociologia da espécie humana. E é o seguinte: há ‘exemplares’ desta
espécie que, pela constatação já enunciada, não teriam direito a formar casal
ou, por outras palavras tecnicamente mais exigentes, deveriam ser consideradas “inelegíveis”
para uma vida-a-dois, precisamente por se acharem ‘geneticamente’ inaptos para
viverem em sociedade perfeita. Exagero?... Talvez. Mas tal não me impede de
propor que, no âmbito ante-nupcial, deveriam os candidatos ao matrimónio,
sujeitar-se a testes ‘psico-técnicos’, (como actualmente acontece na melhor propedêutica
profissional) afim de avaliar da real e holística capacidade para ascender a tão
distinto estatuto.
Dir-me-ão
que estou a navegar na estratosfera perfeccionista do sonho. E concordo, Mas,
ao menos, que se promova intensamente e por todos os meios possíveis, uma campanha
de reeducação da sensibilidade individual e social para. se mais não for,
corrigir deformações congénitas (elas são maiores do que pensamos) e preparar
os indivíduos para o prazer de viver em comum. Mas como?... se o espectáculo
quotidiano só nos debita cenas degradantes da vida de cônjuges suicidas, de
políticos e governantes desvairados, ‘trumpatizados’, inclusive de hierarcas
dogmatistas e magistrados de letra e não de espírito?!..
Enfim,
dê-se prioridade à reconstrução do Homem-em-sociedade, antes que à guerra
contra a guerra. Fale-se mais no apetecível sabor da paz familiar que no combate
à violência. Porque combate atrai combate e violência gera violência! E
neste estádio todos ficam a perder. É a derrota total!
25.Nov.19
Martins Júnior
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