Após a longa viagem que os levou a Água de Pena,
depois ao Santo da Serra e ao Porto da Cruz, os Três Reis atravessaram a perigosa
rocha do Larano, tendo por guias os borracheiros do Norte carregadores de vinho,
chegaram ao Caniçal e viram o Menino nascido numa canoa. Depois, depois… quem
nos conta é o Narrador:
Vede a Estrela
já em Machico
Caminhai sem
medo algum
Lá está o
desembarcadoro
Como esse não há
nenhum
Acudiram logo os Anjos em pressurosa informação:
Abraçai essa
baía
Atravessai-a com
fé
Aqui jazem os
amores
De Machim e Ana
d’Arfet
E segui junto à
Ribeira
Cantai-lhe as
vossas canções
Como outrora já
cantou
Álvares, o “Nosso
Camões”
Catedral és tu,
Machico,
Dentro de um
vale outros vales
São arcos e são
ogivas
Que curam os
vossos males
Onde houver duas
ribeiras
Numa ponte
entrelaçadas
Guinai à vossa
direita
Subi por essas
calçadas
Não obstante o peso do cansaço, a custo subiram o
velho empedrado do estreito caminho que os levou atá ao coração de Machico, a
Ribeira Seca. E, à uma, exclamaram:
Agora, sim, aqui
vemos
Na concha do
vale enorme
O Imperador do
mundo
Nas palhinhas
sonha e dorme
Ao som que vem
da Ribeira
O Menino sonha e
canta:
Dizem que a
Ribeira é Seca
Mas p’ra Mim ela
é a mais santa
Faz com que as
forças do mal
Nunca nos matem
nem vençam
A Machico e ao Mundo
inteiro
Jesus, deita a
tua bênção
Feita a adoração dos Magos e a sua profissão de fé
no Menino renascido, os céus abriram.se e logo surgiram os Anjos Mensageiros,
apostrofando os descrentes em alta voz:
Onde estais,
padres de Roma,
Fugistes mesmo a
sério?
Trazei o Papa e
o Bispo
Venham ver este
mistério
Deitem fora esse
orgulho
Essas mitras,
essas togas
Não sejais novos
Caifás
Das antigas
sinagogas
E vós, Reis do
Oriente,
Ganhastes esta
vitória
Jesus nasceu em
Machico
In excelsis
Glória Glória
Ide reencontrar
Jesus
Noutra terra e
noutra história
No epílogo deste longo percurso,
fica-nos a lição de Machico, marco primeiro das Descobertas e, com isso, o brio
patriótico de quem pertence a este solo mátrio, tal como o Nazareno nutriu pela
sua cidade capital de Jerusalém. Excluindo liminarmente quaisquer resíduos de
nacionalismos ou regionalismos exacerbados, impõe-se-nos a nós, herdeiros da
Primeira Capitania da Madeira, uma inteira prestação de serviços à grei a que
pertencemos, até merecermos dos nossos vindouros o mesmo justo panegírico que
Luis Vaz de Camões dedicou aos “varões assinalados” da velha Lusitânia: “Ditosa
Pátria que tais filhos teve”!
Que a trajectória das chamadas “Missas
do Parto”, em que acompanhámos os Três Reis do Oriente na demanda do velho
casebre em que nasceu o Libertador da Humanidade, nos transporte ao mundo da
reconciliação, do amor e da construção do sonho infante. É o que rentaremos programar
amanhã, 24 de Dezembro, pelas 6 horas da madrugada, neste recanto bucólico em que Jesus também “nasce”
em cada dia que passa.
23.Dez.19
Martins
Júnior
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