Foi
animada e, sobretudo, elucidativa a reunião do arciprestado de Machico/Santa
Cruz, realizada no templo e biblioteca da Ribeira Seca.
Duas temáticas em confronto. De um
lado, as preocupações dos párocos mais experientes, digamos que veteranos: “Quem
é que vê jovens interessados no ensino
da religião nas escolas? Quem os vê na igreja? E quem os ensina?”… De outro
lado, os clérigos menos rodados: “”É preciso usar bem os óleos do baptismo,
marcar as confissões do Advento e da Quaresma, publicitar atempadamente os
horários das missas do parto, organizar as procissões das velas no mês de Maio”.
Os veteranos, “com um saber de experiência feito”, voltam à carga: “Mas o que
mais se ‘vê’ é a sua ausência, o desinteresse dos jovens”. Acede um outro, também veterano, entra no
debate e sugere: “Há um outro dilema a montante. E é este: o que é que a Igreja
tem para dar aos jovens de hoje?”.
Embora transversal e omnipresente em
todo o ano e em toda a vida, a questão formulada entre os colegas párocos
suscitou-me, nesta quadra natalícia, a mesma incógnita: “Que tem o Natal a
dizer aos jovens de hoje?... E que motivações lhes propõe a Igreja, enquanto
mensageira e, de certo modo, delegada oficial do magno acontecimento?”…
Se recorrermos às fontes inspiradoras e
prenunciadoras da Grande Notícia, confrontamo-nos com dois cenários apelativos
à juventude: primeiro, a beleza transbordante de um horizonte futuro, pleno de
pujança e fertilidade, onde o amor e o fulgor brilham no cimo de cada montanha e
abraçam toda a amplitude do globo terrestre. Um segundo projecto, vigoroso e
libertador, sustenta o primeiro, apresentando-se como a factura pagante desse
Mundo Novo: a fortaleza, a persistência, o arrojo e a entrega incondicional do
Ser Humano na construção dessa nova era, incarnada no Natal de sempre. É em
Isaías, Poeta e Profeta, que descobrimos a varanda de onde se avista o sonho
antigo. E é em João, o Baptista, que se revela o lutador sem medo, austero,
quer nos princípios quer no teor logístico quotidiano, no traje, na disciplina
espartana dos costumes, quer ainda no intrépido afrontamento face ao corrupto
poder instituído do governador Herodes. Os de ontem e os de hoje!
Eis duas foças motrizes capazes de
galvanizar a juventude! Há nelas um brilho mágico que agita o coração de um
jovem garboso e decidido, nimbado “pela ânsia de subir, cobiça de transpor”
(Goethe) até alcançar a estrela cimeira dos seus ideais. Há credos e há
ideologias, portadoras desta dupla energia e de tal potência que atrai jovens
generosos capazes de entregar a própria vida em prol de uma causa maior. Em
contrapartida, a Igreja pouco mais oferece que o folclore paisagístico da ‘lapinha’,
a opulência multicolor que sobredoura as avenidas, as missas do parto, cuja principal
atracção nos adros não difere muito das ‘barraquinhas da (des)ordem’ e da
poncha, nas praças do povo.
Bem sei que o dia de aniversário não é
palco de dramatização do aniversariante. Mas esquecê-lo e imobilizá-lo ao
tronco de gráceis estatuetas ou de figurantes gigantões redundará em
desprestígio da grande efeméride. Mais: é deixar de rastos pelo chão a nobre
armadura dos heróis candidatos à vitória. O Natal não é só uma Criança!
13.12.19
Martins
Júnior
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