sábado, 25 de janeiro de 2020

OS HOMENS NÃO INVENTARAM OS DEUSES, MAS FIZERAM AS RELIGIÕES

      Aponho-lhe o subtítulo declarativo: Leitura breve do divisionismo religioso. E justifico a opção pelo facto de neste dia 25 de Janeiro ocorrer o encerramento  do já centenário “Oitavário pela Unidade das Igrejas”, uma iniciativa do pastor anglicano Paul Wattson, em 1908, logo partilhada pelo Papa de Roma.
         É de fácil narrativa o historial do “Oitavário”: Confrontado com a manta de retalhos das mais diversificadas religiões, o anglo-americano Wattson decidiu lutar contra este atentado à integridade do seu Fundador, Jesus de Nazaré, “O Nazareno”. Grandes progressos, embora de pequenos passos, conheceu o fenómeno religioso, denominado Cristianismo. No entanto, continuaram as divergências (nalguns locais transformaram-se em discórdias acesas) arvoraram-se supremacias, orgulhos, dogmatismos exacerbados, multiplicaram-se as seitas e templos, salpicadas de   celebrações, sessões e orações conjuntas, permutas ‘diplomáticas’ de visitas segmentadas, ora a um, ora a outro templo das confissões em rede…aparente.
         Sublinho “rede aparente” e mantenho. Porque ajustando o microscópio da ‘razão prática’  lê-se, vê-se a olho-nu onde radica o escândalo do divisionismo religioso – precisamente nisto: os corifeus, donos ou capatazes das religiões pretendem sobrepor-se ao seu Fundador. São eles que expõem a Constituição do “seu” reino. São eles que impõem aos ombros dos outros fardos e sanções que nem com um dedo querem tocar. São eles que moldam usos e costumes sempre ao serviço dos “seus” interesses classistas.
Garantem a segurança dos “seus” interesses, lançam os alicerces dos “seus” tribunais e tipificam os ‘crimes’ e as penas, talhadas à imagem dos Códigos de Processo Penal. E assim se contrói um “reino”. De imediato,  inscrevem no alçado frontal – “este é o Reino de Deus” ou “A Porta do Céu” ou O Império de Cristo”,  com trono e coroa, ceptro e anel, palácio e guarda.
         E aqui começam as dissenções, os ‘ciúmes’ e as rivalidades entre os auto-nomeados representantes do “Chefe” (desculpem a crueza), do Pastor, da Divindade. Matam a alma da religião mas engrossam o corpo, arregimentam o “seu” castelo, enchem-se os cofres e os paióis. Acontece o mesmo nos negócios e agências do mundo:  quando o procurador quer ser mais que o Outorgante. Ou o aprendiz superior ao Mestre. Ou o director do club quando pretende “jogar” para fora mais que os atletas em campo. Ou, ainda, como se a cópia quisesse suplantar o original.
         Tenho para mim que se o verdadeiro Pastor e Mestre voltasse destruiria tantas bancas de cúpulas ditas religiosas, destituiria liminarmente tantos  vendilhões do Seu Nome!  E ao Povo verdadeiramente crente diria o mesmo que à Samaritana confidenciou: ”O Meu Pai só aceita adoradores que o sejam em Espírito e Verdade” (Jo.4,1-24).
Em termos directos e, talvez, sensivelmente contundentes, tentei traduzir o que ao longo dos séculos tem sido expresso por autênticos arautos do Espírito, profetas, teólogos, ascetas e místicos. No entanto, por todos aconselho a Primeira Carta de Paulo que será lida amanhã em todos os templos: (1 Cor.1, 10-13.17).
Em Espírito e Verdade!

25.Jan.20 
       Martins Júnior               

2 comentários:

  1. A verdade, nua e crua...dolorosa, mas verdade!

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  2. O Padre Martins sempre foi contundente, incisivo, iluminado! .... Explicitou verdades "nuas e cruas" que se aplicam sobremaneira na Sociedade Madeirense e caem como uma luva no Brasil...

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