quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

“PARA QUE ISTO NUNCA MAIS ACONTEÇA”


                                                 

“A sociedade inteira há-de comprometer-se em preservar a memória do genocídio nazi e assegurar que nada de semelhante jamais venha a  acontecer”
Estas as palavras solenes,  saídas das vozes esgotadas pela velhice, mas emocionadas pela memória dos ainda sobreviventes ao Holocausto na cerimónia do 75º aniversário da libertação de Auschwitz! Foi o momento alto das comemorações a que assistiram representantes de cinquenta estados, entre os quais Filipe VI e Letícia, reis de Espanha e o presidente da Polónia Andrejez Duda  que exaltou o heroísmo dos soldados polacos, pois que “foram eles que combateram os invasores alemães, desde o primeiro ao último dia da guerra”. Uma cerimónia que terminou ao cair do dia, “quando o campo se enchia de uma triste tonalidade de bruma, com uma melancólica melodia de violino ecoando na paisagem”, refere  Jacinto Antón, jornalista do El País.
Por todo o mundo se fez eco do memorável e luminoso “Dia D”, de 1945.  Entretanto o jornal Le Monde preferiu destacar o lado negro superveniente, as ameaças cada vez mais espessas que persistem, paradoxalmente, em “branquear” o Holocausto, passando-lhe uma esponja e, daí, abrindo caminho para novos atentados contra a humanidade, a partir de pequenos gestos e subtis manobras do normal quotidiano. Entre esta premeditada série de manobras, figura o crescente número de intérpretes e guias turísticos que, por influência de determinadas ideologias políticas, nomeadamente a extrema-direita Alternativa para a  Alemanha (AdF), informam os milhares de visitantes com execráveis “provocações” (na opinião do historiador Jens-Christian Wagner, actual responsável pelo campo de Bergen-Belsen) como a que se segue: “Se os franceses têm o direito de orgulhar-se de Napoleão e os ingleses de Churchill, não existe nenhuma razão lógica para não nos orgulharmos da perfomance dos nossos soldados alemães na segunda guerra mundial”.
Incrível e muito mais grave quando os visitantes são alunos das escolas, acompanhados pelos respectivos professores! É o discurso revisionista de 1940, retomado agora com nova versão em países onde o anti-semitismo e o discurso anti-migração  vão ganhando força. Esta orquestrada campanha denominada negacionismo (negação do Holocausto) atinge, pasme-se, altos dignitários da hierarquia eclesiástica.
Ora é exactamente contra esta corrente que se torna urgente lutar. Lutar mesmo! “Para que jamais volte a acontecer”. Transcrevo o início do breve poema que escrevi anteontem, dia 27, Dia da Libertação de Auschwitz; “De diamante puro e duro/ Hoje são as últimas cinzas de Auschwitz/ Mas não morreram com elas/  As insaciáveis  goelas/ Do forno crematório”.
E porque são da mesma carne e dos mesmos ossos os facínoras de ontem e de hoje, ditadores, carrascos estranguladores da humanidade, por isso é que se impõe a vigilância e a luta. Refiro  o eloquente pré-aviso do já citadohistoriador Jen-Christian Wagner, o homem actualmente responsável pelo Bergen-Belsen, antigo campo de concentração: “Aos visitantes não basta apenas lamentar as vítimas do nazismo. É preciso ir mais longe. Porque é mais fácil chorar as vítimas do que interrogarmo-nos sobre a fábrica de carrascos. Ora, é com esta espécie de reflexão que teremos mais eficácia”.
Fábrica de carrascos! Elas aí se escondem e disfarçam como cogumelos infestantes, gafos de bactérias invisíveis: nos partidos, nas assembleias, na banca, na droga, nas escolas e até nas igrejas, como o bispo britânico Richard Williamson.  Uns, carrascos das mentalidades; outros, operacionais no terreno.  Contra essa onda tribal é preciso fazer frente! Sob pena de sermos engolidos no turbilhão do forno crematório. E o único antídoto contra essa vaga bacteriana é o Povo, a sua mentalidade, a sua palavra, a sua denúncia sem medo. Destruamos o medo, porque o medo mata.
Escrevo estas palavras e aponho-lhe dois marcos justificadamente proclamatórios. Primeiro, o título onomástico do novo avião de bandeira nacional: JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS, o poeta de peito aberto, lusitano de gema, que um dia cantou “Ninguém mais há-de fechar as portas que Abril abriu”! Justíssima homenagem a este novo e  outro “General sem medo”. O segundo, um outro “Capitão de Mar e Guerra”, “Comodoro de Aquém e Além-Mar”, o jovem RUI PINTO, cujo talento tem desbravado os antros da corrupção e desmascarado os monstros do capitalismo internacional devoradores do sangue, do corpo e da alma do Povo – “Povo que trabalha / E faz o Mundo Novo”!

29.Jan.20
Martins Júnior
  


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