“A
sociedade inteira há-de comprometer-se em preservar a memória do genocídio nazi
e assegurar que nada de semelhante jamais venha a acontecer”
Estas
as palavras solenes, saídas das vozes
esgotadas pela velhice, mas emocionadas pela memória dos ainda sobreviventes ao
Holocausto na cerimónia do 75º aniversário da libertação de Auschwitz! Foi o
momento alto das comemorações a que assistiram representantes de cinquenta
estados, entre os quais Filipe VI e Letícia, reis de Espanha e o presidente da
Polónia Andrejez Duda que exaltou o
heroísmo dos soldados polacos, pois que “foram eles que combateram os invasores
alemães, desde o primeiro ao último dia da guerra”. Uma cerimónia que terminou
ao cair do dia, “quando o campo se enchia de uma triste tonalidade de bruma,
com uma melancólica melodia de violino ecoando na paisagem”, refere Jacinto Antón, jornalista do El País.
Por
todo o mundo se fez eco do memorável e luminoso “Dia D”, de 1945. Entretanto o jornal Le Monde preferiu destacar o lado negro superveniente, as ameaças
cada vez mais espessas que persistem, paradoxalmente, em “branquear” o
Holocausto, passando-lhe uma esponja e, daí, abrindo caminho para novos
atentados contra a humanidade, a partir de pequenos gestos e subtis manobras do
normal quotidiano. Entre esta premeditada série de manobras, figura o crescente
número de intérpretes e guias turísticos que, por influência de determinadas
ideologias políticas, nomeadamente a extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AdF), informam os milhares de
visitantes com execráveis “provocações” (na opinião do historiador Jens-Christian
Wagner, actual responsável pelo campo de Bergen-Belsen) como a que se segue: “Se os franceses têm o direito de orgulhar-se
de Napoleão e os ingleses de Churchill, não existe nenhuma razão lógica para
não nos orgulharmos da perfomance dos nossos soldados alemães na segunda guerra
mundial”.
Incrível
e muito mais grave quando os visitantes são alunos das escolas, acompanhados
pelos respectivos professores! É o discurso revisionista de 1940, retomado
agora com nova versão em países onde o anti-semitismo e o discurso
anti-migração vão ganhando força. Esta
orquestrada campanha denominada negacionismo
(negação do Holocausto) atinge, pasme-se, altos dignitários da hierarquia
eclesiástica.
Ora
é exactamente contra esta corrente que se torna urgente lutar. Lutar mesmo! “Para
que jamais volte a acontecer”. Transcrevo o início do breve poema que escrevi
anteontem, dia 27, Dia da Libertação de Auschwitz; “De diamante puro e duro/ Hoje são as últimas cinzas de Auschwitz/ Mas
não morreram com elas/ As insaciáveis goelas/ Do forno crematório”.
E
porque são da mesma carne e dos mesmos ossos os facínoras de ontem e de hoje,
ditadores, carrascos estranguladores da humanidade, por isso é que se impõe a
vigilância e a luta. Refiro o eloquente
pré-aviso do já citadohistoriador Jen-Christian Wagner, o homem actualmente
responsável pelo Bergen-Belsen, antigo campo de concentração: “Aos visitantes não basta apenas lamentar as
vítimas do nazismo. É preciso ir mais longe. Porque é mais fácil chorar as
vítimas do que interrogarmo-nos sobre a fábrica de carrascos. Ora, é com esta
espécie de reflexão que teremos mais eficácia”.
Fábrica
de carrascos! Elas aí se escondem e disfarçam como cogumelos infestantes, gafos
de bactérias invisíveis: nos partidos, nas assembleias, na banca, na droga, nas
escolas e até nas igrejas, como o bispo britânico Richard Williamson. Uns, carrascos das mentalidades; outros,
operacionais no terreno. Contra essa onda
tribal é preciso fazer frente! Sob pena de sermos engolidos no turbilhão do
forno crematório. E o único antídoto contra essa vaga bacteriana é o Povo, a
sua mentalidade, a sua palavra, a sua denúncia sem medo. Destruamos o medo,
porque o medo mata.
Escrevo
estas palavras e aponho-lhe dois marcos justificadamente proclamatórios.
Primeiro, o título onomástico do novo avião de bandeira nacional: JOSÉ CARLOS ARY
DOS SANTOS, o poeta de peito aberto, lusitano de gema, que um dia cantou “Ninguém
mais há-de fechar as portas que Abril abriu”! Justíssima homenagem a este novo
e outro “General sem medo”. O segundo,
um outro “Capitão de Mar e Guerra”, “Comodoro de Aquém e Além-Mar”, o jovem RUI
PINTO, cujo talento tem desbravado os antros da corrupção e desmascarado os monstros
do capitalismo internacional devoradores do sangue, do corpo e da alma do Povo –
“Povo que trabalha / E faz o Mundo Novo”!
29.Jan.20
Martins Júnior
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