Privilégio
– ocasional e gratuito, é certo mas é sempre um privilégio estar de perto dos
promotores deste acontecimento notável. O jornal Le Fígaro e a editora La
Fayard descerraram ao mundo o pano de cena que encobria aquilo que, para
uns é um escândalo, para outros uma verdade libertadora, ou seja, a aparente
polémica entre Papas, Cardeais, Secretários do Vaticano acerca do celibato obrigatório, opcional ou excepcional
dos eclesiásticos.
Enquanto grande parte, talvez a
maioria, dos comentadores se ocupa dos pormenores e adereços secundários desta “novela”
limito-me a enaltecer o sumo precioso que se extrai deste episódio, volto a
sublinhar, notável. Até que enfim, o debate aberto começa a ganhar o seu lugar
ao sol numa Igreja que se diz fraterna e
democrata, mas na verdade não o é.
Quando se vêem Papas, Cardeais, a “Ínclita
Geração Vaticana” a divergir publicamente sobre questões consideradas intocáveis
ao longo de séculos, aí está aberto o caminho custoso mas dignificante que todo
o cristão tem direito a percorrer é em busca da Verdade. E para aqueles que
vêem neste projecto galvanizador um motivo escandaloso de guerras, então deverá citar-se o lapidar veredicto do Mestre: “penseis que vim trazer a paz à terra; Não vim trazer paz,
mas espada. Pois Eu vim para ser motivo de discórdia entre
o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim
os inimigos do homem serão os da sua própria familia (Lucas 10 34-36).
Não admira, pois, que o mesmo cenário se repita entre Papas, Cardeais,
Arcebispos e afins.
O episódio presente já alguém o
comparou aos preocupantes acontecimentos da Reforma e Contra-Reforma. Felizmente
com uma diferença: hoje ninguém é Lutero para cair-lhe em cima a pena capital
da excomunhão papal.
Se “da discussão nasce a luz” a fortiori da procura serena e corajosa da Verdade
alcançar-se-ão as pistas seguras para chegar às fontes, isto é, o pensamento e
à vivência do fundador do Cristianismo.
15.Jan.20
Martins Júnior
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