sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

“QUE PRETENDIA AQUELA MULHER DO PAPA”?


                                                               

Hoje ‘vou sair da caixa’. Ninguém levará a mal porque até ao “Reis” ou até ao “varrer dos armários” é tempo de reinar, divertir e…corrigir, como recomendava o bem humorado filósofo da antiga Grécia: “Ridendo castigo mores” (rindo, castigo os costumes, as pessoas). Também dispenso-me de comentar a reacção do Papa Francisco àquela mulher que lhe puxou a mão na Praça do Vaticano, como quem desejava ardentemente beijá-lo. A imagem tornou-se superabundantemente viral nas redes sociais.  Apenas limitar-me-ei  ao aspecto formal do gesto e ao estilo com que jornais, internet’s e conversas de rua titularam o caso.
Puxei para título desta noite o léxico com que a maior das pessoas se lhe referia: “Que pretendia aquela mulher do Papa”?... Devo confessar que a minha preferência seria: “Quantas mulheres tem o Papa”?... Não o fiz, mas poderia tê-lo feito. Porque a primeira designação – “Que pretendia aquela mulher do Papa?” – presta-se a um enorme equívoco, podendo dela inferir-se  a hipótese de o Papa ter outra ou outas mulheres, além daquela mulher.
Como seria então a forma correcta de noticiar o caso, isto é, o gesto da mulher ao puxar a mão do Papa, de modo a evitar o equívoco da frase anterior?.  Após várias tentativas, assentou-se nesta fórmula: “Que pretendia do Papa aquela mulher?”   
Vem esta deriva a propósito do Ano Novo e dos rios de tinta que em 2020 vão encher toneladas de papel sobre os mais diversos assuntos. E já os temos bem pesados neste início do ano! Refiro-me tão só à escrita, à ortografia, à construção da frase, à concordância das formas verbais com os respectivos sujeitos gramaticais. Salvo melhores opiniões, não se me afigura positiva a avaliação do panorama  jornalístico do nosso meio, pejado de gralhas sucessivas, repetidos  clic’s, enfadonhas duplicações de notícias e textos de opinião, até na mesma edição diária. Enfim, em tempo de lazer e se me é permitido, faço votos de que os nossos jornais, revistas, locutores, rádio e televisão procurem valorizar-se em termos de proporcionarem aos consumidores da RAM uma ementa literária, suficientemente válida, gramaticalmente limpa e globalmente sadia.     
Não obstante a vida efémera da imprensa – já dizia Peguy que ”o jornal de ontem é mais velho que a Odisseia de Homero” – vale a pena distribuir à mesa dos leitores (e eu incluo-me entre eles) um pão matinal saudável e seguro.  Bom Ano!
03.Jan.20
Martins Júnior
        

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