Hoje
‘vou sair da caixa’. Ninguém levará a mal porque até ao “Reis” ou até ao “varrer
dos armários” é tempo de reinar, divertir e…corrigir, como recomendava o bem
humorado filósofo da antiga Grécia: “Ridendo castigo mores” (rindo, castigo os
costumes, as pessoas). Também dispenso-me de comentar a reacção do Papa
Francisco àquela mulher que lhe puxou a mão na Praça do Vaticano, como quem
desejava ardentemente beijá-lo. A imagem tornou-se superabundantemente viral
nas redes sociais. Apenas limitar-me-ei ao aspecto formal do gesto e ao estilo com
que jornais, internet’s e conversas de rua titularam o caso.
Puxei
para título desta noite o léxico com que a maior das pessoas se lhe referia: “Que
pretendia aquela mulher do Papa”?... Devo confessar que a minha preferência
seria: “Quantas mulheres tem o Papa”?... Não o fiz, mas poderia tê-lo feito.
Porque a primeira designação – “Que pretendia aquela mulher do Papa?” – presta-se a um enorme equívoco, podendo dela
inferir-se a hipótese de o Papa ter
outra ou outas mulheres, além daquela
mulher.
Como
seria então a forma correcta de noticiar o caso, isto é, o gesto da mulher ao
puxar a mão do Papa, de modo a evitar o equívoco da frase anterior?. Após várias tentativas, assentou-se nesta
fórmula: “Que pretendia do Papa aquela
mulher?”
Vem
esta deriva a propósito do Ano Novo e dos rios de tinta que em 2020 vão encher
toneladas de papel sobre os mais diversos assuntos. E já os temos bem pesados
neste início do ano! Refiro-me tão só à escrita, à ortografia, à construção da
frase, à concordância das formas verbais com os respectivos sujeitos
gramaticais. Salvo melhores opiniões, não se me afigura positiva a avaliação do
panorama jornalístico do nosso meio,
pejado de gralhas sucessivas, repetidos clic’s, enfadonhas duplicações de
notícias e textos de opinião, até na mesma edição diária. Enfim, em tempo de
lazer e se me é permitido, faço votos de que os nossos jornais, revistas,
locutores, rádio e televisão procurem valorizar-se em termos de proporcionarem aos
consumidores da RAM uma ementa literária, suficientemente válida,
gramaticalmente limpa e globalmente sadia.
Não
obstante a vida efémera da imprensa – já dizia Peguy que ”o jornal de ontem é
mais velho que a Odisseia de Homero” – vale a pena distribuir à mesa dos
leitores (e eu incluo-me entre eles) um pão matinal saudável e seguro. Bom Ano!
03.Jan.20
Martins Júnior
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