Passados
‘Os Reis’ e queimados os últimos estalos da “Festa” e Ano Novo, é nesta semana
que se entra definitivamente no curso do normal quotidiano: entra-se na sala de
aulas, no estaleiro das obras, na ferrugem da oficina, no relvado dos estádios,
enfim, a vida recomeça. E, no calendário litúrgico, entra-se (ou reentra-se) na
nave dos templos, com a comemoração do Baptismo do Menino – que, afinal, já não
era Menino, era um robusto exemplar de varão, aos 30 anos de idade. Em qualquer
idade reentra-se na vida!... Por coincidência, neste início de 2020, têm-me
ocorrido diversas “entradas” no amplo
convívio dos crentes: são os baptismos de crianças trazidas pelos pais e
padrinhos à pia baptismal.
Pese
embora não interessar – num primeiro olhar – a muita gente o assunto em causa,
atrevo-me a dedicar esta semana a esse mesmo gesto iniciático, o Baptismo.
Precisamente por ser inicial, direi, virgem, madrugador, esse primeiro passo
está quase sempre rodeado (revestido, embrulhado) de uma atmosfera angelical,
quase mítica, até mesmo romântica, em que o “maravilhoso cristão” (invocação de
santos e arcanjos, óleos sacros, repetidos sinais-da-cruz) se mistura com o “maravilhoso
pagão” ou profano (padrinhos, comadres e compadres, pulseirinhas, prendas
muitas), movendo-se, pois, todo o acto sacramental num bulício de suave expectativa
e regozijo sem nuvens.
Talvez
por isso mesmo, no ambiente extasiante do templo fica diluído o tronco
estruturante do acto, a razão e o escopo últimos do Baptismo, ou seja, a
matrícula ou inscrição do neófito (criança ou adulto) na grande colectividade
chamada Igreja Cristã e Católica. Aliás, outro significado não terá o ritual
começado à porta do templo, com o
ingresso processional até à pia baptismal.
Tremendo
passo este, o de tomar a decisão de optar por uma determinada (e não outra) ‘confissão
religiosa”, credo, ideologia, código de vida!... Disse ‘tremendo passo’ para o
titular do acto (o neófito), mas terei de corrigir para “temerário” este acto
para os autores morais do mesmo. Por outras palavras: o titular do acto não foi
consultado sobre tão decisiva opção. De todos os presentes, ele, o protagonista
é o único que desconhece o que se está passando. É caso para perguntar: mais
tarde, quando tiver discernimento, estará ele de acordo com a responsabilidade
que pais e padrinhos estão a impor-lhe desde esse momento?... Ninguém pode garanti-lo.
Responder-me-ão
que, ao chegar a essa encruzilhada, a pessoa é livre de tomar a direcção que
quiser, isto é, pode livremente mudar de opção, de religião. Direi, então, o
que determina a Teologia Dogmática: o Sacramento do Baptismo imprime carácter em
quem o recebe. Quer isto dizer, em termos práticos, a marca do Baptismo fica indelevelmente
inalterada para toda a vida: baptizada
uma vez – baptizada para sempre!
São
longas e nada ligeiras as virtualidades, os pesados corolários, inclusos nas teses expostas, o primeira dos quais seria
a exigência da idade do discernimento ou livre arbítrio para receber-se o
Baptismo. Não será motivo de escândalo para ninguém este eventual normativo se
pensarmos que foi aos 30 anos que Jesus aderiu ao Baptismo de João Baptista no
rio Jordão. Nas mesmas circunstâncias estão gradas figuras da hierarquia
católica, como os canonizados doutores da Igreja: Basílio, Ambrósio, João
Crisóstomo, Agostinho, que receberam o Baptismo na idade adulta. (R.Gerardi, in ‘Diccionario Teologico Enciclopédico’
Ed. Verbo Divino, Navarra, pag.103).
Por
analogia com as procurações forenses, os pais – primeiros procuradores da
criança – se, ao longo do seu crescimento, não a informarem e motivarem para os
valores assumidos no Baptismo, deveria o Código da Consciência dizer-lhes que o
dia da grande festa baptismal não passou de uma farsa, um embuste, talvez, um
esfarrapado episódio de uma novela sem enredo nem conclusão.
O
Baptismo é raiz e é tronco promissores de flores e frutos!
13.Jan.20
Martins Júnior
....QUI POTEST CAPERE, QUI CAPIAT!
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