E
hoje a Palavra – corpo mágico da Ideia – vai inteira e ímpar para a Escola
Secundária de Machico, cujos professores de Literatura reuniram os alunos de três
turmas do 11º Ano para reflectirem sobre a vida e obra do “Imperador da Língua
Portuguesa”, o Padre António Vieira, na sequência dos conhecimentos adquiridos
nas aulas da especialidade.
Foram
momentos de cordial intercâmbio com quatrocentos anos de permanência no solo
pátrio, pleno de verdade histórica e de uma acuidade palpitante no Portugal e
no mundo do século XXI. António Vieira não será mais visto como o clérigo hermeticamente
formatado numa sotaina sacrista, mas como um gigante que sobressai acima das
nuvens do firmamento luso, pela palavra e pela acção no domínio da cultura, do
magistério, da teologia, da política e da defesa inquebrável da liberdade e
da justiça social. Um génio! E mais que um génio, um Santo – no alcance
semântico que ao qualificativo lhe deu Antero de Quental: “na grande marcha da História, o Santo é aquele que vai sempre na
vanguarda”. Já o afirmei mais de uma vez: o Padre António Vieira tem todas as credenciais
para ser canonizado! Ele foi e continua a ser o bandeirante do Império Futuro,
não o português, mas do Homem Universal.
Nele,
a Palavra transfigurou-se em ouro fino e, nas horas da Verdade, atingiu a veemência
do diamante cortante. Comparáveis, só Lacordaire, Bossuet e, talvez, Cícero na
antiga Roma e Demóstenes na acrópole ateniense. Confesso abertamente esta
paixão: eu daria um quarto das minhas
oito décadas de vida só para poder ouvir um discurso, um sermão, da boca e do
gesto do Padre António Vieira.
Por
coincidência, hoje também o Dia da Rádio. É a Palavra a alma da Rádio, a seiva
hertziana que sobe às montanhas, sobrevoa os rios, mergulha os oceanos, percorre
as intermináveis auto-estradas e penetra mansamente no recôndito das casas, em
redor da nossa mesa ou no aconchego da nossa cama. Pela Rádio, a Palavra não
tem grades nem fronteiras.
A
Palavra dita, sonora, heróica, como a de Vieira. A Palavra escrita, como a de
Camões, o Grande, a de Pessoa e a do outro Camões, “O Pequeno”, o Nosso de
Machico. A Palavra gestual, como a de todos
aqueles e aquelas que tão graciosamente sabem transmiti-la. E a Palavra
cantada, a deusa do reino da oralidade, reservada à “ínclita geração” de Orfeu. Falta ainda a Palavra-Silêncio, tão
indizível e bela e poderosa, como as pausas de uma partitura de Beethoven ou
Mozart.
Amemos
a Palavra como quem ama a mãe que temos ou o filho que somos. Tratemos a
Palavra como quem acarinha a namorada, a noiva ou a mulher amada. Poupemos a
Palavra como a um pecúlio precioso, capital em caixa para a economia da nossa
vida futura. E, acima de tudo, larguemos aos quatro ventos, a Palavra oportuna, segura, optimista, como a bandeira
planetária que a todos acolhe e abraça.
No
Dia da Palavra, oxalá que nunca saia da nossa boca nem sequer do nosso silêncio
o amargor conclusivo de Eugénio de Andrade quando disse: ”Gastámos as palavras,
meu amor”! Que nunca seja mal gasta nenhuma das nossas palavras. Tão difícil…
No
Dia da Rádio, uma saudação a todos os profissionais, para que façam do microfone
o seu melhor confidente e, ao mesmo tempo, o mais severo juiz das suas palavras!
À
Escola Secundária de Machico, na pessoa dos Docentes. Paula Gois, promotora deste encontro, João Luis Freire, introdutor
do tema proposto, ao Director Dr. José Maria Dias e a todos os Professores os
votos de que continuem a alimentar a
chama da mensagem de Vieira e dos
exemplares cultores da Palavra na formação dos jovens alunos, futuros construtores
da nossa história.
13.Fev.20
Martins Júnior
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