Não
há metro nem metrónomo que definam cabalmente o tamanho ou o batente do
fenómeno chamado Vida. Porque o viver não está nas léguas percorridas. Há-as longas
e tão morosas, ruidosas, mas não enchem sequer uma mão fechada. E há-as, outras
vidas, tão breves e fugidias, quase imperceptíveis na agorá da barafunda publicitária, mas que ultrapassam e preenchem
corpos e almas. Para medi-las, as vidas, talvez só um densímetro apurado, capaz
de sinalizar a densidade, a resiliência e a fecundidade que elas intimamente possuem.
Mais tarde que cedo, naturalmente e sem estorvo, elas assomam ao mirante da sociedade e vêem
reconhecida a sua existência.
Hoje foi esse dia. No “Solar-Museu do
Ribeirinho”, em Machico, o Município rubricou o documento oficial da cedência, de quatro salas da Escola da Ribeira Seca, actualmente desactivada, ao CCCS-RS, “Centro
Cívico-Cultural e Social da Ribeira Seca”. Dia de sol, por dentro e por fora.
Dia de sol no berço do seu 21º aniversário, ocorrido precisamente há dois dias.
Desde essa primeira hora da fundação por escritura pública, em 19 de Maio
de 1999, o CCCS-RS tem sido um veículo de socialização e cultura, não só no perímetro
semi-rural, semi-urbano, da Ribeira Seca, mas também fora dele. Recordo figuras
proeminentes da intelectualidade portuguesa, tais como Luís Moita, no “Dia da
Europa”, Hasse Ferreira, João José de Sousa e outros nas comemorações da
Revolta da Madeira, 4 de Abril, Rui Carita, na evocação do “25 de Abril”. O CCCS-RS
honra-se sobremaneira com a lição dada pelo historiador Nelson Veríssimo e pela investigação de Manuel
Rufino Teixeira sobre o Achamento da Madeira, em terras de Machico, 2 de Julho
de 1419.
Inesquecível
o “Parlamento Infanto-Juvenil” , no Dia Mundial da Criança, já lá vão 18 anos, realizado no salão-biblioteca da Ribeira Seca,
em que crianças e adolescentes subiram “à tribuna” para debater a Proclamação Universal
dos Direitos da Criança. Datas assinaláveis, como o Dia da Mulher, em que a
saudosa Dra. Maria Aurora e a Dra. Luísa de Paiva Boléo sustentaram um
prestimoso diálogo com as mulheres da localidade, evento este realizado dentro
do próprio templo, visto que o salão não comportava tão grande número de
participantes. Em idênticas circunstâncias, as sessões sobre saúde, entre as
quais o “Mês do Coração”, destacando-se
a “aula” da especialista cardiologista Dra. Eva Pereira, além de outros
profissionais do sector.
Na
área da formação musical e sua divulgação, a “Tuna de Câmara de Machico, TCM”,
embora criada em 1983, passou a integrar a estrutura do CCCS-RS, promovendo
mais intensamente audições e espectáculos, quer em Machico, quer no Funchal, no Teatro
Baltazar Dias, por ocasião do Festival Internacional de Tunas. A nível das
festas tradicionais, o CCCS-RS tem marcado presença ininterrupta nos desfiles
de Carnaval concelhio e nas "Marchas Populares" a cargo da Junta de
Freguesia. A Noite do Mercado e o Cantar dos Reis, da responsabilidade do Município e da Freguesia, respectivamente, contam sempre com
a presença dos jovens desta associação. Como contaram também os quatro CD’S, já
publicados, não obstante ser de Autor a
sua edição. De assinalar a presença em
Machico, no palco da Ribeira Seca, de cantautores nacionais, como Janita Salomé,
Francisco Fanhais e o malogrado Pedro Barroso, em 2012, por convite especial do CCCR-RS. A participação no programa televisivo
nacional, “Praça da Alegria”, em 2005, constituiu um momento gratificante da
associação.
Na
sua folha de serviços, avulta a publicação de três obras – “Poemas Iguais aos
Dias Desiguais”, “Legado” e “Olhares Múltiplos” – cuja compilação pertenceu ao
mesmo Centro. Ficaria incompleta a presente listagem, embora sucinta, se não
mencionássemos a elucidativa mensagem presencial do Padre Agostinho Cesário Jardim Moreira, presidente
da Rede Europeia Anti-Pobreza, que abriu as mentalidades sobre o verdadeiro
serviço social, não apenas assistencial, mas holístico e geracional. Neste
âmbito, já o CCCS-RS realizara, com sucesso, em 2011-2012, o Curso de Operador de Serviços
Sociais e Culturais, financiado pelo Fundo Social Europeu, RUMOS.
Senti-me no dever de trazer ao “mirante da
sociedade” este feixe de notícias, para muitos desconhecido, mas verídico e
actuante, do CCCS-RS, em cujo rol tenho a honra de integrar-me, como simples
colaborador. Daí, o ter classificado o dia de hoje, 21 de Maio, como um
antecipado solstício de verão. Digo-o, sentidamente, porque a associação nunca teve sede própria (reunia
no salão-biblioteca da igreja) nem beneficiou até à data de subsídios oficiais
para os seus programas. Foi uma luta insana a iniciativa da construção de um “Pavilhão
Multiusos”, pois que tínhamos terreno e projecto, mas outros desvalores mais
baixos se alevantaram… Só pela dedicação e empenho dos seus dirigentes e benfeitores
eventuais conseguiu manter-se de pé o CCCS-RS. É o espelho da resiliência que
caracteriza a alma da Ribeira Seca, desde tempos imemoriais.
Felicito
a Câmara Municipal de Machico, particularmente o seu presidente Ricardo Franco
e a vereadora da cultura, Mónica Vieira, presentes no acto da entrega das
chaves do edifício à presidente do CCCS-RS, Irene Catanho, numa cerimónia
singela, em virtude da época restritiva em que o Covid-19 nos enclausurou. Mais
felicito as autoridades municipais e entusiasticamente congratulo pelo facto de
terem entrelaçado nesse acto a associação coreográfica “Prestige Dance”, na
pessoa da professora Oksana Kerekesh, a qual associação, já com provas dadas
dentro e fora da Madeira, partilhará de forma autónoma as mesmas instalações,
contribuindo assim para a valorização global da população ribeira-sequense.
Que
o solstício antecipado de 21 de Maio aqueça a terra e o coração das gentes para
que produzam luzidios e saborosos frutos!
21.Mai.20
Martins Júnior
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