segunda-feira, 25 de maio de 2020

UMA SEMANA DE CORPO E ESPÍRITO


                                            

É tempo de tréguas, se falamos de guerra, seja de combate entre as hostes, seja de embate com  a natura. E se falamos de incêndio, o tempo é de rescaldo. Num caso e noutro, a palavra de ordem é meter as mãos, esticar os braços para varrer os destroços, juntar os cacos, salvar as raízes e segurar as paredes que sobraram. Numa palavra, reconstruir. E, se possível, aproveitando o que de sólido ficou após a catástrofe.
Esforço hercúleo que convoca o poderoso batalhão planetário para esta “pancruzada” irrecusável e urgente! Na economia, através das estruturas empresariais públicas e privadas e, sobretudo, no potencial do operariado remanescente. Na saúde, recuperando o volume das consultas e cirurgias em espera. No ensino, com recurso às tecnologias comunicacionais. Em tudo. E também na religião.
Embora não exija a materialização concreta da reconstrução, como noutros segmentos retro-mencionados – o edifício da Fé transcende o empírico e visual – o certo é que tem sido militantemente agitada nas redes sociais a bandeira das práticas religiosas. Até Mr. Trump ameaça guerrear contra os governadores que não mandem abrir as igrejas!...
Nesta semana, dedicarei a esta “causa” todos os nossos “dias ímpares”. Porquê? É que entrámos na recta final de um ‘atípico’ tempo pascal, precisamente na esfuziante e folclórica tradição do chamado “Espírito Santo”, em que casas, caminhos e veredas vestiam-se do vermelho da alegria, com opas, bandeiras, saloias e foguetes atravessando a freguesia.
Começo hoje pela caracterização genérica dessas “romarias do Divino” . Trata-se de um feixe narrativo, em verso, (já editado no CD:  “A Igreja é do Povo/ O Povo é de Deus”) cantado e coreografado há mais de quatro décadas no palco da Ribeira Seca. Sabendo que os tempos são outros e diversos, deixo as conclusões ao critério de quem lê e desde já prometo para mais tarde a minha  interpretação, não só deste episódio, mas de todo o fenómeno prático-religioso.   

REFRÃO
Porque hoje é dia de festa
Nós iremos recordar
A história do nosso povo
Que hoje veio apresentar
A história do Espirito santo
 Fica bem aqui lembrar
Bandeirinhas e saloias 
Tudo aqui vamos contar

Estava o Rei D. Dinis
Em Portugal a reinar
A Rainha lhe pediu
P’ra uma igreja levantar

Logo o Rei fez a vontade
Alenquer foi o lugar
Procissões e romarias
Começou a organizar

Zarco em Câmara de Lobos
Fez capela e fez altar
Ponta do Sol o Esmeraldo
Fez igreja de encantar

Depois a Igreja gostou
E fez sua ferramenta
Arranjou capas vermelhas
Bandeiras e água benta

Assim começou a festa
Com violas e machetes
À conta do Espirito Santo
Veio o homem dos foguetes

Mas não podia faltar
O saquinho do dinheiro
Grandes arrematações
Vinho e brigas pelo meio

Até as pobres criancinhas
Sem saber qual era o fim
Vieram como saloias
Elas cantavam assim

Acudi gente da casa
Abri a vossa portinha
Aqui tendes o Divino
Na figura da pombinha

Abençoada é a esmola
Se a dais com alegria
Espirito Santo Divino
Fique em vossa companhia

O Espirito Divino
Quando fez sua descida
Não fez nenhum carnaval
Só veio p’ra dar a vida

Mas agora o nosso povo
Já descobriu a Verdade
O Divino Espirito Santo
Traz a Vida e a Unidade

25.Mai.20
Martins Júnior

        


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