É tempo de tréguas, se
falamos de guerra, seja de combate entre as hostes, seja de embate com a natura. E se falamos de incêndio, o tempo é
de rescaldo. Num caso e noutro, a palavra de ordem é meter as mãos, esticar os
braços para varrer os destroços, juntar os cacos, salvar as raízes e segurar as
paredes que sobraram. Numa palavra, reconstruir. E, se possível, aproveitando o
que de sólido ficou após a catástrofe.
Esforço hercúleo que
convoca o poderoso batalhão planetário para esta “pancruzada” irrecusável e
urgente! Na economia, através das estruturas empresariais públicas e privadas
e, sobretudo, no potencial do operariado remanescente. Na saúde, recuperando o
volume das consultas e cirurgias em espera. No ensino, com recurso às
tecnologias comunicacionais. Em tudo. E também na religião.
Embora não exija a
materialização concreta da reconstrução, como noutros segmentos retro-mencionados
– o edifício da Fé transcende o empírico e visual – o certo é que tem sido militantemente
agitada nas redes sociais a bandeira das práticas religiosas. Até Mr. Trump ameaça
guerrear contra os governadores que não mandem abrir as igrejas!...
Nesta semana, dedicarei
a esta “causa” todos os nossos “dias ímpares”. Porquê? É que entrámos na recta
final de um ‘atípico’ tempo pascal, precisamente na esfuziante e folclórica
tradição do chamado “Espírito Santo”, em que casas, caminhos e veredas
vestiam-se do vermelho da alegria, com opas, bandeiras, saloias e foguetes
atravessando a freguesia.
Começo hoje pela
caracterização genérica dessas “romarias do Divino” . Trata-se de um feixe
narrativo, em verso, (já editado no CD: “A
Igreja é do Povo/ O Povo é de Deus”) cantado e coreografado há mais de quatro
décadas no palco da Ribeira Seca. Sabendo que os tempos são outros e diversos, deixo
as conclusões ao critério de quem lê e desde já prometo para mais tarde a minha
interpretação, não só deste episódio,
mas de todo o fenómeno prático-religioso.
REFRÃO
Porque hoje é dia de festa
Nós iremos recordar
A história do nosso povo
Que hoje veio apresentar
A história do Espirito santo
Fica bem aqui
lembrar
Bandeirinhas e saloias
Tudo aqui vamos contar
Estava o Rei D.
Dinis
Em Portugal a
reinar
A Rainha lhe
pediu
P’ra uma igreja
levantar
Logo o Rei fez a
vontade
Alenquer foi o
lugar
Procissões e romarias
Começou a
organizar
Zarco em Câmara
de Lobos
Fez capela e fez
altar
Ponta do Sol o Esmeraldo
Fez igreja de
encantar
Depois a Igreja
gostou
E fez sua ferramenta
Arranjou capas
vermelhas
Bandeiras e água
benta
Assim começou a
festa
Com violas e machetes
À conta do
Espirito Santo
Veio o homem dos
foguetes
Mas não podia
faltar
O saquinho do
dinheiro
Grandes arrematações
Vinho e brigas
pelo meio
Até as pobres
criancinhas
Sem saber qual
era o fim
Vieram como
saloias
Elas cantavam
assim
Acudi gente da casa
Abri a vossa portinha
Aqui tendes o Divino
Na figura da pombinha
Abençoada é a esmola
Se a dais com alegria
Espirito Santo Divino
Fique em vossa companhia
O Espirito
Divino
Quando fez sua
descida
Não fez nenhum
carnaval
Só veio p’ra dar
a vida
Mas agora o
nosso povo
Já descobriu a
Verdade
O Divino
Espirito Santo
Traz a Vida e a
Unidade
25.Mai.20
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário