quarta-feira, 3 de junho de 2020

“UM HOMEM TEM DE MORRER”!!!


                                                           

Vem do fundo da história esta fatídica sentença: Alguém tem de morrer, para que a multidão aprenda a viver!… Homem ao mar, para toda a tripulação se salvar!... É preciso asfixiar (um só homem) para que todos saibam respirar!...
Em nada abona à espécie humana o vergonhoso Acórdão que ela própria carrega aos ombros, desde que o irmão Caim matou o irmão Abel. A família estremeceu, corou de pavor e de ignomínia, depois esqueceu. Até ao dia em que um outro irmão caiu assassinado no chão da própria casa… até àquela noite em que a criança foi barbaramente esquartejada…até àquela madrugada em que uma mulher agonizou exangue afogada na cama onde dormia… Ano após ano, século após século, até àquela hora em que os Doutores da Lei e os Legisladores de Jeová sentenciaram: “Ele, esse  infiel Nazareno, tem de ser morto, pois está escrito: Um homem tem de morrer por todo o povo”!
E a sina horrenda continuou, perseguindo os mesmos passos sem um lamento, sem um sobressalto.  Anos e anos, séculos e séculos. Entre guerras, tumultos, crimes inconfessados. Até ao século XXI… Até que foi preciso que um joelho, arrancado às entranhas cavernosas de outro mundo, cortasse o oxigénio a George Floyd!
O Planeta estremeceu, bradou, enfureceu! Porque um Homem morreu!!!.... E ninguém sente nem reage contra instituições e regimes desumanos, que todos os dias e todas as noites – talvez à nossa beira! – deixam jazer no chão da vida e a céu aberto, homens, mulheres, crianças, projectos, sonhos ideais, morrendo aos poucos. E nenhum de nós grita. E nenhum de nós dá a cara. Nenhum de nós os levanta do chão! Será preciso que o sangue de alguém corra diante dos nossos olhos e incendeie os nossos pés insensíveis, gelados de egoísmo?!
Tão cedo voltarei a face e o coração para os joelhos dobrados. Ai, joelhos que se baixam para valer a um paralítico jogado à valeta. Joelhos que se curvam, vergados ao peso dos anos. Joelhos que se baixam em reflexão e prece. Benditos, felizes, louvados sejam!
Mas … joelhos que sufocam, que esmagam e matam, atirai-os para longe da vista e do coração.  Ou deixai-os ficar, como um raio fulminante, atravessando o petrificado basalto do Planeta e despertem definitivamente a sensibilidade e a consciência da espécie humana!
Será preciso esperar outro George Floyd?
Será preciso esperar uma nova pandemia para oxigenar e amar  a Terra e o Ambiente, esta nossa “Casa Comum”?!
    
 03.Jun.20
Martins Júnior

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