Vem
do fundo da história esta fatídica sentença: Alguém tem de morrer, para que a
multidão aprenda a viver!… Homem ao mar, para toda a tripulação se salvar!... É
preciso asfixiar (um só homem) para que todos saibam respirar!...
Em
nada abona à espécie humana o vergonhoso Acórdão que ela própria carrega aos
ombros, desde que o irmão Caim matou o irmão Abel. A família estremeceu, corou
de pavor e de ignomínia, depois esqueceu. Até ao dia em que um outro irmão caiu
assassinado no chão da própria casa… até àquela noite em que a criança foi barbaramente
esquartejada…até àquela madrugada em que uma mulher agonizou exangue afogada na
cama onde dormia… Ano após ano, século após século, até àquela hora em que os
Doutores da Lei e os Legisladores de Jeová sentenciaram: “Ele, esse infiel Nazareno, tem de ser morto, pois está escrito:
Um homem tem de morrer por todo o povo”!
E
a sina horrenda continuou, perseguindo os mesmos passos sem um lamento, sem um
sobressalto. Anos e anos, séculos e
séculos. Entre guerras, tumultos, crimes inconfessados. Até ao século XXI… Até
que foi preciso que um joelho, arrancado às entranhas cavernosas de outro mundo,
cortasse o oxigénio a George Floyd!
O
Planeta estremeceu, bradou, enfureceu! Porque um Homem morreu!!!.... E ninguém
sente nem reage contra instituições e regimes desumanos, que todos os dias e
todas as noites – talvez à nossa beira! – deixam jazer no chão da vida e a céu
aberto, homens, mulheres, crianças, projectos, sonhos ideais, morrendo aos
poucos. E nenhum de nós grita. E nenhum de nós dá a cara. Nenhum de nós os
levanta do chão! Será preciso que o sangue de alguém corra diante dos nossos olhos
e incendeie os nossos pés insensíveis, gelados de egoísmo?!
Tão
cedo voltarei a face e o coração para os joelhos dobrados. Ai, joelhos que se
baixam para valer a um paralítico jogado à valeta. Joelhos que se curvam,
vergados ao peso dos anos. Joelhos que se baixam em reflexão e prece. Benditos,
felizes, louvados sejam!
Mas
… joelhos que sufocam, que esmagam e matam, atirai-os para longe da vista e do
coração. Ou deixai-os ficar, como um
raio fulminante, atravessando o petrificado basalto do Planeta e despertem
definitivamente a sensibilidade e a consciência da espécie humana!
Será
preciso esperar outro George Floyd?
Será
preciso esperar uma nova pandemia para oxigenar e amar a Terra e o Ambiente, esta nossa “Casa Comum”?!
03.Jun.20
Martins Júnior
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